AS DECLARAÇÕES E AS CONTRA-DECLARAÇÕES DO MINISTRO
Como se referiu no último post, Bruxelas permite que se apoiem os bancos com milhares de milhões mas recusa o apoio do Estado a empresas que necessitem de ser capitalizadas para poderem subsistir com o estatuto que actualmente têm.
O caso da TAP é exemplar. Com um capital social ridículo relativamente ao seu volume de negócio, a TAP precisa urgentemente da entrada de capitais do Estado para continuar a desenvolver o seu negócio ao abrigo das crises conjunturais que ciclicamente a afectam.
A União Europeia, em princípio, não permite que o proprietário da empresa (o Estado) tome a seu cargo essa capitalização, por o proprietário ser quem é, em virtude de tal acto ser entendido como uma ajuda de Estado, algo que, na ortodoxia neoliberal, é tão grave como no auge dos rigores do colectivismo seria ter meio hectare de terra para explorar por conta própria.
Trata-se de uma proibição que não tem qualquer explicação racional e que apenas pode ser compreendida com base num preconceito ideológico levado às últimas consequências.
O Ministro dos Transportes e das Comunicações colocado perante a situação, na sequência de um pedido de informação do Bloco de Esquerda, logo se apressou a confirmar que a TAP precisava urgentemente de ser privatizada para poder escapar a uma crise grave.
É claro que esta resposta suscitou a maior perplexidade, não apenas pela privatização de uma empresa como a TAP, mas por imediatamente se depreender que, tendo o Ministro ou o seu gabinete ligado processo de privatização à situação financeira da empresa e às crises que ela pode gerar, tal processo iria ter lugar nas piores condições possíveis. Privatizar neste contexto seria um “enorme favor” que o capital privado estaria a fazer ao Estado, “retirando-lhe de cima dos ombros esse enorme peso” que é o de ser proprietário de uma empresa como a TAP.
Tendo realizado um dia depois, face ao alarme causado pelas suas explicações, a enormidade da justificação apresentada, o Ministro veio corrigir o que disse antes, afirmando que a empresa tem uma excelente “performance”, que é uma “empresa perfeitamente sustentável” e com uma “capacidade notável face a todas as situações de crise”.
Há aqui muita coisa que não bate certo. A primeira, não despicienda, é a legítima interrogação sobre o que é ser ministro hoje. Tradicionalmente, o Ministro era uma personalidade com ideias, capaz de encontrar soluções criativas favoráveis à defesa do interesse geral, no quadro geral da linha política defendida pelo partido que apoia o Governo. Esta ideia de Ministro, porém, foi sendo gradual e substancialmente alterada com a passagem do tempo. O Ministro hoje assemelha-se cada vez mais a um funcionário que prescinde da sua própria capacidade de pensar (ou já é propositadamente escolhido por ter esta incapacidade como qualidade recomendável) e actua no quadro de uma obediência hierárquica ao núcleo duro do Governo, disposto a fazer tudo o que lhe mandam, concorde ou não concorde com o que “tem de ser feito”.
A segunda coisa que não bate mesmo nada certo é a grande disparidade existente no espaço de um dia do resultado da avaliação das características da mesma empresa. Passa-se de uma empresa em risco eminente de falência no caso de uma crise causada por factores conjunturais (porém, sempre muito presentes, diga-se o que se disser), para uma empresa com “uma capacidade notável face a todas as situações de crise”.
A terceira coisa que não bate certo é estar-se a fazer de conta que a empresa não tem um passivo (seguramente) gigantesco que alguém directa ou indirectamente garante e que imediatamente se venceria se a empresa deixasse de ser pública.
A quarta e decisiva coisa que não bate certo, é o Ministro aparentemente desconhecer o que ainda há dias Sarkozy foi dizer em Saint-Nazaire, depois de ter decidido que iria salvar da falência um dos estaleiros navais mais importantes de França, sempre com o argumento de que um país só será um grande país se tiver nas suas mãos “isto, aquilo e aqueloutro”, e de que, como máximo responsável pelos destinos da França, prefere “meter” dinheiro do Estado nas empresas em risco de falência do que gastar esse mesmo dinheiro em subsídios de desemprego e outros apoios sociais. E quem diz Sarkozy diz Merkel relativamente a outras grandes empresas alemãs.
Ou seja, é também para isto que um Ministro serve e não apenas para seguir com espírito de funcionário obediente as directivas do Ministro das Finanças por mais absurdas que sejam!
Como se referiu no último post, Bruxelas permite que se apoiem os bancos com milhares de milhões mas recusa o apoio do Estado a empresas que necessitem de ser capitalizadas para poderem subsistir com o estatuto que actualmente têm.
O caso da TAP é exemplar. Com um capital social ridículo relativamente ao seu volume de negócio, a TAP precisa urgentemente da entrada de capitais do Estado para continuar a desenvolver o seu negócio ao abrigo das crises conjunturais que ciclicamente a afectam.
A União Europeia, em princípio, não permite que o proprietário da empresa (o Estado) tome a seu cargo essa capitalização, por o proprietário ser quem é, em virtude de tal acto ser entendido como uma ajuda de Estado, algo que, na ortodoxia neoliberal, é tão grave como no auge dos rigores do colectivismo seria ter meio hectare de terra para explorar por conta própria.
Trata-se de uma proibição que não tem qualquer explicação racional e que apenas pode ser compreendida com base num preconceito ideológico levado às últimas consequências.
O Ministro dos Transportes e das Comunicações colocado perante a situação, na sequência de um pedido de informação do Bloco de Esquerda, logo se apressou a confirmar que a TAP precisava urgentemente de ser privatizada para poder escapar a uma crise grave.
É claro que esta resposta suscitou a maior perplexidade, não apenas pela privatização de uma empresa como a TAP, mas por imediatamente se depreender que, tendo o Ministro ou o seu gabinete ligado processo de privatização à situação financeira da empresa e às crises que ela pode gerar, tal processo iria ter lugar nas piores condições possíveis. Privatizar neste contexto seria um “enorme favor” que o capital privado estaria a fazer ao Estado, “retirando-lhe de cima dos ombros esse enorme peso” que é o de ser proprietário de uma empresa como a TAP.
Tendo realizado um dia depois, face ao alarme causado pelas suas explicações, a enormidade da justificação apresentada, o Ministro veio corrigir o que disse antes, afirmando que a empresa tem uma excelente “performance”, que é uma “empresa perfeitamente sustentável” e com uma “capacidade notável face a todas as situações de crise”.
Há aqui muita coisa que não bate certo. A primeira, não despicienda, é a legítima interrogação sobre o que é ser ministro hoje. Tradicionalmente, o Ministro era uma personalidade com ideias, capaz de encontrar soluções criativas favoráveis à defesa do interesse geral, no quadro geral da linha política defendida pelo partido que apoia o Governo. Esta ideia de Ministro, porém, foi sendo gradual e substancialmente alterada com a passagem do tempo. O Ministro hoje assemelha-se cada vez mais a um funcionário que prescinde da sua própria capacidade de pensar (ou já é propositadamente escolhido por ter esta incapacidade como qualidade recomendável) e actua no quadro de uma obediência hierárquica ao núcleo duro do Governo, disposto a fazer tudo o que lhe mandam, concorde ou não concorde com o que “tem de ser feito”.
A segunda coisa que não bate mesmo nada certo é a grande disparidade existente no espaço de um dia do resultado da avaliação das características da mesma empresa. Passa-se de uma empresa em risco eminente de falência no caso de uma crise causada por factores conjunturais (porém, sempre muito presentes, diga-se o que se disser), para uma empresa com “uma capacidade notável face a todas as situações de crise”.
A terceira coisa que não bate certo é estar-se a fazer de conta que a empresa não tem um passivo (seguramente) gigantesco que alguém directa ou indirectamente garante e que imediatamente se venceria se a empresa deixasse de ser pública.
A quarta e decisiva coisa que não bate certo, é o Ministro aparentemente desconhecer o que ainda há dias Sarkozy foi dizer em Saint-Nazaire, depois de ter decidido que iria salvar da falência um dos estaleiros navais mais importantes de França, sempre com o argumento de que um país só será um grande país se tiver nas suas mãos “isto, aquilo e aqueloutro”, e de que, como máximo responsável pelos destinos da França, prefere “meter” dinheiro do Estado nas empresas em risco de falência do que gastar esse mesmo dinheiro em subsídios de desemprego e outros apoios sociais. E quem diz Sarkozy diz Merkel relativamente a outras grandes empresas alemãs.
Ou seja, é também para isto que um Ministro serve e não apenas para seguir com espírito de funcionário obediente as directivas do Ministro das Finanças por mais absurdas que sejam!
2 comentários:
De há uns anos para cá que os ministros que não são do núcleo duro político do PM (neste caso, Santos Silva, Teixeira dos Santos, Pedro Pereira e Vieira da Silva) são meros executores da política definida por este grupo.
Não têm direito a voz, nem a opinião, própria.
É a mentalidade "jota".
Valha a verdade que não é exclusivo português. Mas esta importação bem podia ficar lá pelo estrangeiro ...
Bom, mas há aqui uma novidade:
Este ministro quer vender ao privado uma empresa que ele já deu a entender que está em maus lençóis.
Até agora, só se privatizaram as empresas estatais que registavam lucro.
Será que houve evolução? Ou haverá qualquer coisa atrás disto? Quando a esmola é grande, o pobre desconfia ...
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