O PASSADO E O FUTURO
Se tivéssemos de adaptar a velha máxima kantiana, ínsita na “Paz
Perpétua” sobre o secretismo dos tratados, aos tempos modernos, da política
eleitoral, ela poderia formular-se mais ou menos assim: “Todos os que te prometem mudança e
não concretizam as propostas em que essa mudança se fundamenta, é porque te
querem enganar”.
No debate desta noite, Aécio insurgiu-se frequentemente
contra a revisitação do passado a que Dilma recorria para marcar a diferença
entre as duas candidaturas - entre o que fez o PSDB no governo e o que fez o PT
e a sua base aliada –, insistindo habilmente na ideia de que ao povo brasileiro
o que interessa é o futuro, a discussão das propostas que podem tornar o Brasil
diferente para melhor.
Certamente, a ideia é sedutora. O futuro se se adivinha ou
espera auspicioso é sempre mais interessante do que o passado. Mas o futuro tem
um problema por definição irresolúvel: refere-se ao que ainda não aconteceu. Claro
que as previsões ajudam a antecipar o futuro, só que as previsões não passam
disso mesmo: de projecções que partem do conhecido para o desconhecido. Se as
projecções fossem uma antecipação rigorosa do futuro, então o futuro deixaria
de o ser. Daí que as sociedades sofram profundas desilusões sempre que as
previsões se não confirmam. Talvez por isso, na política dos nossos dias,
dominada pela política eleitoral, as projecções ou previsões tendam a ser
substituídas pelas promessas.
As promessas assentam na palavra de quem as faz e podem posteriormente
ser avaliadas em função do grau de cumprimento de quem as formula. Embora as
promessas/propostas típicas da política eleitoral estejam igualmente muito desacreditadas,
pela frequente reserva mental com que são formuladas e até tendam a ser esquecidas
quando são habilidosamente escamoteadas na proximidade do seguinte acto eleitoral,
elas têm apesar de tudo a vantagem de manter, pelo menos perante os mais
atentos, o eleito vinculado ao eleitor pelo cumprimento e concretização do
prometido.
Quando, porém, as propostas escasseiam e se resumem a vagas,
embora muito sugestivas, promessas de mudança, há todos os motivos para o
eleitor desconfiar.
Pois bem, Dilma apresentou o trabalho feito, que não sendo
uma projecção nem uma promessa, acaba por ser a melhor garantia do que poderá
vir a fazer no futuro.
Aécio, pelo contrário, muito à semelhança do que agora parece
estar na moda, a avaliar pelo que se passa noutras latitudes, limitou-se a
prometer sugestivamente a mudança – a mudança que doze anos de governo e alguns
graves atropelos à moralidade pública podem de facto favorecer. Mas a verdade
crua dos factos continua inalterável: a matriz de Aécio está no governo que de
1994 a 2002 o antecedeu e em cuja estirpe ele se revê.
Aos brasileiros cabe decidir.
4 comentários:
Vi
E foi assim
Dilma combateu,de AK47 nas mãos,ao lado de Carlos Marighela,contra a ditadura dos militares brasileiros. Há muito que escolhi o meu campo. Força Dilma!
Não gosto de ladrões
mas aprecio os que roubam aos ricos
"Pois bem, Dilma apresentou o trabalho feito, que não sendo uma projecção nem uma promessa, acaba por ser a melhor garantia do que poderá vir a fazer no futuro.
Aécio, pelo contrário, muito à semelhança do que agora parece estar na moda, a avaliar pelo que se passa noutras latitudes, limitou-se a prometer sugestivamente a mudança"
Tem piada que o autor tenha escrito os pensamentos acima transcritos.
Evidencia que para o autor, no caso Dilma, o trabalho feito é a melhor garantia para o trabalho futuro.
Por outro lado, no caso Aécio,este limitou-se a prometer sugestivamente a mudança, uma moda que se 'passa noutras latitudes'.
Percebem? A Dilma, parabéns grande Dilma pela obra garante de um melhor futuro (eu também acho que sim).
Perceberam? Por cá, à semelhança do que está na moda e se passa noutras latitudes, isto é, por cá à semelhança de António Costa, a obra feita não conta e logo é exigido que explique tim-tim por miúdos o que vai fazer no futuro.
A coerência perfeita do conveniente.
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