quarta-feira, 31 de outubro de 2012

PAULO PORTAS LANÇA ESCADA AO PS




 

E ACREDITA QUE O PS NÃO SE VAI PÔR DE PARTE
Paulo Portas recusa ausência da discussão sobre o Orçamento do Estado
 
 

Num estilo dialogante, sem agressividade e aparentemente cordato, Paulo Portas encerrou pelo lado do Governo o debate parlamentar, sendo de destacar na sua intervenção três notas:

1) Aliciamento do PS para participar nos “cortes estruturais da despesa” sem revisão constitucional;

2) Revisão (suave) do posicionamento português na Europa;

3) Justificação do sentido de voto do CDS e da manutenção da coligação.

 
Ensaiando um tipo de conversa com o PS muito diferente daquela que nos últimos tempos o PM tem tido, Portas procura demonstrar dentro da coligação que, se se falar com o PS de outra maneira, será possível trazê-lo abertamente para o campo do Governo e das reformas que este pretende fazer quanto às funções do Estado. Para tranquilizar o PS, Portas põe de parte a revisão da Constituição, certo de que, se o PS participar do compromisso, a questão do Tribunal Constitucional não se porá. Portas acredita que o PS, bem conversado, fará agora o que tem feito de todas as outras vezes: aliar-se à direita em nome do interesse nacional.
Todo o discurso de Portas, seja no que respeita à revisão das funções do Estado, seja no aliciamento do PS como aliado, seja ainda no posicionamento de Portugal na Europa, constitui uma crítica implícita, mas muito perceptível, a tudo o que Passos e Gaspar têm feito nestes últimos tempos. Uma crítica também ao discurso do PSD que antecedeu a sua intervenção, feito por esse fundamentalista perigoso chamado Carlos Abreu Amorim. Ao apontar um novo estilo para a intervenção de Portugal na Europa e ao criticar a divisão Norte/Sul, Portas critica implicitamente o alinhamento cego de Gaspar e de Passos com Merkel, bem como o modo como têm sido conduzidas as negociações com a Troika.

Finalmente, na justificação, também implícita, do voto do CDS e da sua manutenção no Governo, Portas aponta, como fundamental, a “reforma do Estado Social”, sem dúvida o ponto mais importante para o CDS. Paulo Portas e o seu partido estão profundamente empenhados na redução da despesa do Estado, o mesmo é dizer na revisão profunda das funções do Estado, principalmente na Saúde, na Educação e na Segurança Social. Basta atender ao que tem sido a política do CDS à frente do chamado “Ministério da Segurança Social e da Solidariedade” para imediatamente se perceber que tipo de segurança social e de solidariedade o CDS reserva aos portugueses. Quanto à saúde, a conversa inicial vai seguramente apontar no sentido da quebra da universalidade do SNS com base no estafado argumento, mas sempre muito eficaz, de que só quem precisa deve ter cuidados de saúde gratuitos ou por baixo preço. Todos os demais devem pagá-los, mediante a constituição de um seguro de saúde. E aduzirá em defesa da sua tese o interesse das classes médias no abaixamento dos impostos. Na Educação, a conversa será parecida. Para além do básico, que será gratuito, quem continuar a estudar deverá contribuir através de um co-pagamento para atenuação da despesa do Estado. Simultaneamente, subsidiar-se-á a escola privada, colocando-a tanto quanto possível numa posição de igualdade com a escola pública, para que os alunos “possam escolher”. Ou seja, defenderá a destruição da Escola Pública. Na Segurança Social, a receita também é conhecida, fixar-se um tecto máximo (relativamente baixo) para as pensões, para a contribuição das quais serão chamados os patrões (em percentagem muito inferior à que agora pagam) e os trabalhadores com uma taxa fixa (ou eventualmente proporcional, se o tecto for baixo), devendo quem quiser assegurar pensões mais confortáveis fazer os seus planos privados de reformas no sector privado (seguradoras).

É para isto que Portas e o CDS querem aliciar o PS. Claro que se o PS se deixar aliciar, como muitos pensam que inevitavelmente acabará por acontecer, o “compromisso” será presentado de outra maneira. Mas é disto que realmente se trata qualquer que seja a cosmética utilizada. Veremos então se o conteúdo do “compromisso histórico” de que Assis tanto fala será este ou se será outro…

 

1 comentário:

Luis Eme disse...

sim.

namora-se à direita e à esquerda, para manter o poder, por mais curto e banal que possa parecer...