sábado, 23 de fevereiro de 2008

O DEBATE DE AUSTIN

O DEBATE DE AUSTIN

O debate de quinta-feira à noite, 1 da manhã em Portugal, em Austin (Texas), entre os dois candidatos do partido democrático constituía para Hillary Clinton uma grande oportunidade para reverter a situação desfavorável com que se defronta desde a super terça-feira (de carnaval). Não o conseguiu. Quando muito pôde, sempre que não resolveu seguir por outra via, sublinhar as diferenças que a separam do senador de Illinois, principalmente em política externa e em cuidados de saúde. No que respeita a Cuba, recusar-se-á a encontrar-se com os dirigentes cubanos, enquanto estes não se comprometerem numa mudança democrática, enquanto Obama (citando John Kennedy) aceita conversar porque “não se fala somente com os amigos”. No domínio da política de saúde, Hillary repisou o que já havia dito no debate de Los Angeles – que o plano do seu opositor deixa cerca de 15 milhões de americanos sem protecção. Obama, pelo contrário, insiste que todos os americanos estão contemplados.
Mas onde Hillary parece francamente mais à vontade é nos ataques ao carácter e à personalidade de Obama. A tónica da sua campanha tem andado à volta de duas ideias muito simples. Primeira: que Obama não tem experiência nem curriculum. Segunda: que um país como os EUA não se governa apenas com palavras, por mais eloquente que seja a retórica do candidato. Foi, de resto, a propósito destes recorrentes temas que o debate se crispou um pouco. Para sublinhar a inexperiência de Obama, conta um episódio da campanha eleitoral: um apoiante de Obama, perguntado sobre o que tinha feito o seu candidato, nada foi capaz de responder (há um vídeo sobre este episódio). Para simultaneamente desvalorizar a eloquência de Obama e reforçar a tese de que a sua candidatura apenas vive de palavras, repete o que já circulava no you tube: há palavras que não são do candidato, que são um plágio de um político de Massachusetts.
Obama responde do modo esperado: a experiência da senadora de Nova York de nada lhe serviu quando no Senado se discutiu a guerra do Iraque. Ele foi um dos poucos senadores que votou contra. Ela votou a favor. E insiste também no sentido profundo do seu discurso:"Se não se pode inspirar os americanos, se não se pode levá-los a superar as divisões de raça, de género, de religião (…) então continuaremos a assistir impotentes em Washington a todas estas divisões e impasses que tanto fazem sofrer as famílias americanas. Eu sou candidato à presidência para começar a fazer qualquer coisa contra este sofrimento". Depois, a propósito do alegado plágio, acha ridículo que se considere plágio a utilização de duas linhas e meia do seu co-director de campanha, ou seja, da pessoa que com ele prepara os discursos. “Infelizmente, concluiu, as pessoas dizem coisas estúpidas como esta”.
Estes ataques de H. Clinton não têm tido grande eco no campo democrático e parecem até ter-se virado contra a sua autora. Mas nem por isso deixam de ser perigosos quando utilizados pelos republicanos, como aliás já começou a acontecer. A regra tácita das primárias é não recorrer a métodos que possam favorecer o adversário final. Hillary, desesperada e frustrada pelos resultados alcançados, quebrou esta regra. A ver vamos as suas consequências…

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