quarta-feira, 5 de março de 2008

AS DUAS ESPANHAS

A EQUANIMIDADE DE PACHECO PEREIRA

Pacheco Pereira foi convidado pelo Público para dirigir a edição de hoje, comemorativa do 18.º aniversário do jornal. Ainda não li, salvo a última página. Mas o que lá li, no “sobe e desce”, é suficiente para formular um juízo sobre o modo como o director ocasional entende o jornalismo. Em primeiro lugar, a notícia mais importante da rubrica (Liechtenstein e a fraude fiscal) não é dele e nas da sua autoria, principalmente naquela em que ele se esforça por fazer um jornalismo de outro nível (duas Espanhas), fica-se com a impressão que as duas Espanhas se encontram no mesmo plano de legitimidade. “Um foge à polícia”, certamente porque infringe as leis que a outra Espanha legitimamente lhe impõe e o “outro reza à noite”, não certamente para pedir a conversão do herege, mas provavelmente porque só na intimidade do lar consegue fazê-lo sem ser perseguido.
Não, Dr. Pacheco Pereira. Não creio que seja por isso. Um foge à polícia, porque teme ver repetida a situação descrita no belo poema de António Machado:

Se le vio, caminando entre fusiles,
por una calle larga,
salir al campo frio,
aún com estrellas, de la madrugada.
Mataron a Frederico
Cuando la luz asomaba.
El pelotón de verdugos
No osó mirarle la cara.
Todos cerraron los ojos;
Rezaron; ni Dios te salva!
Muerto cayó Frederico
- sangre en la frente y plomo en las entrañas –
…Que fue en Granada el crimen,
Sabed – pobre Granada! – en su Granada…”


E é por isto que outro reza. E também por querer tratar os imigrantes como criminosos, enfim, por não aceitar a pluralidade de opiniões, de crenças, de destinos, por não aceitar a nenhum título a diferença. É por isso que ele reza…sempre com o auxílio e a bênção da Santa Madre Igreja!

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