terça-feira, 18 de março de 2008

DUAS NOTAS SOBRE O ACORDO ORTOGRÁFICO

O QUE NOS SEPARA

Em matéria de língua, a única coisa que nos liga ao Brasil é a grafia, com ou sem Acordo Ortográfico. No resto, tudo nos separa, nomeadamente a fonética, a estrutura da frase e a oralidade.
Com ou sem acordo ortográfico, vamos continuar a divergir. Se um português falar coloquialmente no Brasil, como fala em Portugal, ele não será compreendido pela generalidade dos brasileiros. O mais provável é ouvir: “Oi”? E vai ter de repetir até ser entendido, sendo-o tanto mais depressa quanto mais adaptar a estrutura da sua frase à brasileira.
A fonética é muito diferente, mas não é o maior obstáculo. O maior obstáculo está na estrutura da frase, e isso é particularmente notado na oralidade. No dia em que os escritores brasileiros ou os jornais mais influentes passarem a reproduzir na escrita a oralidade - o que já hoje é feito por alguns escritores e por alguns jornais, pelo menos, em certas secções ou cadernos –, será mais cómodo e mais agradável para todos os portugueses, e não apenas para alguns, que conheçam línguas, ler aquele mesmo texto traduzido em francês, inglês ou espanhol do que no português em que está escrito.
O acordo, ao contrário do que se diz, pouco unifica a grafia, já que um número enormíssimo de vocábulos continuará com dupla grafia, a de lá e a de cá. Digamos, que apenas se unifica o que pode ser unificado “sem dor”, principalmente do lado brasileiro.
Quer isto dizer que nos deveremos opor ao Acordo? Pelo meu lado, quer apenas dizer que o Acordo não resolve qualquer problema, porque o problema que existe - e existe – não pode ser resolvido com normas jurídicas!

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