quarta-feira, 18 de junho de 2008

MAIS UMA VEZ A SRA TERESA DE SOUSA


A NATO, A UNIÃO EUROPEIA E A CONVERSA DO COSTUME

A Sra. Teresa de Sousa, que me parece ser uma mulher obcecada por fardas, militares e guerras, está muito feliz por o Presidente francês ter ontem confirmado o regresso da França à estrutura militar da NATO. Ela crê – e tem no Governo português quem lhe faça companhia – que com o regresso da França à estrutura militar da NATO estará finalmente aberto o caminho para uma política de defesa europeia, completamente dominada por aquela organização militar.
Sendo a NATO hoje, até mais do que ontem, a expressão do controlo militar americano sobre o continente europeu e servindo acima de tudo os interesses estratégicos americanos, como, por exemplo, manter a Rússia militarmente cercada, num tempo e numa época em que tais objectivos têm mais em vista inventar um inimigo do que propriamente defender-se dele, ela estaria obviamente condenada a desaparecer se a Europa progredisse minimamente no aprofundamento do processo de integração de forma consolidada, isto é, democraticamente. Como infelizmente não é esse o caso, a América, beneficiando do alargamento da UE e dos receios associados a independências recém-adquiridas, pôde manter a Aliança militar na Europa e até alargá-la.
No entanto, não é ainda tão claro quanto o entusiasmo da Sra Teresa de Sousa deixa supor o modo como os franceses se propõem integrar o comando militar da NATO. É que, além de não haver integração na NATO da força de dissuasão nuclear, parece também evidente que a nova política francesa de defesa deixou de se fundar na hipótese de um conflito maior na Europa para se recentrar naquilo a que Sarkozy chamou “zonas de interesse estratégico” compreendidas num arco que vai do Atlântico ao Índico. Enfim, as preocupações francesas e a definição autónoma de uma política de defesa parecem pouco compagináveis com o papel que os Estados Unidos costumam atribuir aos seus parceiros neste tipo de alianças.
O mais que por agora se pode dizer, tendo em conta o advento de uma nova Administração americana e a indefinição por que passa o processo de integração europeia, é que ainda é cedo para saber o que se vai passar com a NATO, por mais triunfalistas que os atlantistas caseiros estejam.
Mas a Sra Teresa de Sousa não se fica por aqui. Num outro artigo que assina no Público de hoje, sobre o Não da Irlanda, demonstra, à semelhança do que já tinha acontecido com alguns políticos e intelectuais portugueses, uma total incompreensão do que se está a passar no processo de construção europeia. E ao admitir que possa haver uma política europeia fora da Europa, ou seja, fora da UE, ela mostra também que está muito longe de compreender a complexidade europeia. O que, aliás, não admira, porque nas citações que faz de ex-governantes sobre os desafios com que a Europa se defronta, principalmente face aos países emergentes, ela não reproduz correctamente o que de mais importante foi dito por um desses políticos.
Refiro-me ao artigo de Felipe Gonzalez ontem publicado no El País. Ao contrário do que afirma a Sra Teresa de Sousa, Felipe Gonzalez não diz que a Europa precisa de ser mais competitiva. Essa busca de competitividade a qualquer preço, que tem sido feita por alguns países da Europa, é que verdadeiramente constitui a causa do fracasso da construção europeia, determinado pelo afastamento cada vez maior entre a Europa e os cidadãos.
Gonzalez, que sabe muito bem que a Europa se não pode fazer sem os europeus e muito menos contra os europeus, o que afirma é que a Agenda de Lisboa tinha por objectivo transformar a Europa na primeira potência tecnológica e económica do mundo em 2010 como meio para assegurar e desenvolver o seu modelo de coesão social, sinal irrenunciável da sua identidade. E dá como exemplo o pacto social que na sequência da segunda guerra mundial ajudou a reconstruir a Europa ocidental e a convertê-la numa grande potência industrial e de serviços, com intensa criação de emprego e um sistema de redistribuição dos excedentes, que permitiu melhorar a educação, atender aos riscos da doença e do desemprego, e conceder prestações de segurança social, nomeadamente as reformas. Com base nos exemplos do passado, Gonzalez propõe novas políticas no domínio da formação profissional, da educação e da investigação, bem como um novo pacto social de longo alcance.
Se a Sra Teresa de Sousa fosse minimamente sensível aos valores democráticos teria lido de outro modo o artigo de Felipe Gonzalez. Mas como se pode exigir à Sra Teresa de Sousa, formada na democracia emerre, aquilo que os nossos “socialistas” e os seus estimados defensores não capazes de ver nem de compreender?

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