quinta-feira, 14 de agosto de 2008

PORTUGAL E O CONFLITO NO CÁUCASO


AS AMBIGUIDADES DE UMA POLÍTICA EXTERNA


Para o conflito da Geórgia é absolutamente irrelevante a posição de Portugal, mas poderá não ser indiferente para a defesa dos interesses nacionais a posição da diplomacia portuguesa.
Com Sócrates de férias, embora certamente contactável, cabe a Amado gizar a posição portuguesa relativamente àquele conflito. Depois do que se ouviu sobre o Kosovo, era de admitir que o MNE tivesse relativamente à Ossétia do Sul e à Abekázia uma posição semelhante. Ou seja, considerar que a intervenção de Saakashvili contra aquele território autónomo, etnicamente diferenciado e com a esmagadora maioria da sua população (mais de 90%) a desejar a sua integração na Federação Russa, representava uma agressão inadmissível dos direitos humanos, se não mesmo um genocídio, do povo ossetiano e legitimava a intervenção de uma força de paz internacional para conter as manifestações belicistas da Geórgia, com vista á preparação de um referendo, internacionalmente observado, para em definitivo se definir o destino daquelas regiões autónomas.
Mas não, não ouvimos nada disso. O que ouvimos foi uma declaração relativamente ambígua que, se em alguns passos não prima pela ambiguidade, é exactamente por deixar uma censura à intervenção russa. Depois da aposta, muitas vezes defendida pelo Primeiro-ministro, numa diplomacia virada para os grandes países emergentes, como potenciais mercados das empresas portuguesas, além de grandes fornecedores de energia, supúnhamos que iríamos ver o MNE defender uma posição mais consentânea com aqueles interesses e mais coerente com as posições anteriores sobre situações semelhantes. Mas não foi isso o que aconteceu: nem defesa dos tais interesses económicos, nem coerência com posições assumidas anteriormente.
A coerência que parece existir é de outra natureza: defender uma tese que não conflitue com a posição de Bush e que dela se aproxime tanto quanto possível. Se Amado estivesse mais atento e mais empenhado na defesa de uma linha política própria, posto que harmonizável com as iniciativas em curso da UE, teria reparado que até Obama disse que a Geórgia se deveria abster de usar a força na Ossétia do Sul e na Abekázia.
Enfim, nuances que a diplomacia portuguesa dispensa…

Sem comentários:

Enviar um comentário