terça-feira, 23 de setembro de 2008

A CRISE FINANCEIRA NA ONU E NO MUNDO

AS PROPOSTAS DOS RESPONSÁVEIS POLÍTICOS

Sobre a crise económico-financeira, os responsáveis e ex-responsáveis políticos de todo o mundo, a maior parte deles lavando as mãos como Pilatos, vão brandindo argumentos contra a hegemonia do mercado e propondo soluções e reformas para evitar no futuro males maiores.
Comecemos pelo Dr. Mário Soares. Soares responsabiliza os neoliberais americanos e os seus seguidores europeus pela crise; mostra-se muito céptico relativamente ao papel que a chamada esquerda americana possa desempenhar na procura de novas soluções e lamenta-se que na Europa já não haja, no campo da social-democracia, políticos como os de outrora. Os partidos socialistas, enfeudados à terceira via de Blair e Schroeder ou – ele não o diz, mas pensa-o – seduzidos pelo pragmatismo que rapidamente os lançou nos braços do neoliberalismo, deixaram de ser uma referência séria para qualquer tipo de mudança estrutural.
Sarkozy, no discurso que hoje proferiu na Assembleia Geral das Nações Unidas, fez uma crítica contundente ao modelo neoliberal em vigor, atacou o sistema financeiro internacional, traçou um novo papel para os bancos (que apenas devem servir para financiar o desenvolvimento económico) e propôs a realização até ao fim do ano de uma reunião ao mais alto nível para corrigir os erros do sistema.
Lula da Silva, o homem que está mudar a face do Brasil, baseado na superioridade moral e política que lhe advem, em quase seis anos de mandato, da criação de 10 milhões de empregos formais e de uma redistribuição, lenta mas segura, de rendimento e riqueza, manifestou-se contra medidas paliativas e preconizou mecanismos de controlo e de supervisão que assegurem total transparência ao funcionamento do sistema financeiro.
Na América, os democratas, entalados entre a “urgência” das medidas propostas por Bush e as consequências eleitorais de uma recusa, já só estão preocupados em que os 700 mil milhões de dólares não vão parar inteirinhos aos bolsos dos especuladores de Wall Street em troca do “lixo” que eles vão entregar ao Estado como retribuição e lutam para que alguma coisinha sobre para os que ficaram sem casa, sem emprego e sem dinheiro.
E também Cavaco, a quem numa curta intervenção ouvi, em N.Y., perorar sobre a situação, parece ter uma solução técnica para este problema “tecnicamente complexo” que assola o mundo.
A grande, enorme, enormíssima diferença entre esta crise e as que ocorreram até 1989, a de 1929 incluída, é que as soluções para a debelar estão sendo procuradas pelos mesmos que são por ela politicamente responsáveis. Os lesados pela crise, dada a situação excepcional que hoje se vive no mundo de completo domínio ideológico de um modelo de organização social, não têm respostas, nem vontade, nem capacidade de acção política para se tornarem sujeitos da História.
Bem se engana, por isso, o Dr. Mário Soares quando afirma que hoje não há líderes com a qualidade e coragem dos de outrora. O que não há na Europa é quem empunhe a bandeira da luta para mudar o sistema. Os líderes de que ele fala são aqueles que tiveram a inteligência de ceder o que podia ser cedido, para não perderem o essencial e cativarem com as suas cedências os que haviam optado por outro caminho. A partir do momento em que deixou de haver outro caminho, por que não deixar funcionar o sistema na sua plenitude global?

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