segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A EUROPA SEGUE O SEU CAMINHO NA RELAÇÃO COM A RÚSSIA


AS PRIMEIRAS FISSURAS


Os Estados Unidos estão fazendo tudo o que está ao seu alcance para isolar a Rússia.
Dick Cheney andou a prodigalizar promessas e ameaças no Cáucaso, onde verdadeiramente só colheu o apoio a cem por cento do “cadáver político” Saaskashvili – como lhe chama Medvedev -, e procura agora trazer para o seu campo a Itália de Berlusconi, o qual, por força dos negócios que tem com a Rússia e da relação pessoal com Putin, se tem recusado a alinhar com os americanos.
Entretanto, o ministro das Relações Exteriores de Espanha, Miguel Ângel Moratinos, na entrevista que hoje concede ao El País, deixa claro que não é do interesse da Europa uma política seguidista da dos Estados Unidos. Na linguagem diplomática própria de quem exerce a sua função diz expressamente que “devemos evitar que nos coloquem de novo uma agenda de guerra fria” e fala na criação de um grande espaço geopolítico pan-europeu, abrindo assim a porta para a discussão da proposta de Medvedev sobre uma nova arquitectura de segurança europeia. Enfim, toda a sua intervenção vai no sentido de manter e aprofundar a relação com a Rússia, sendo inclusive sintomático que, no decurso da entrevista, tivesse revelado que, no último Conselho Europeu extraordinário, houve chefes de Estado e de Governo que recordaram que as hostilidades no Cáucaso foram abertas pela Geórgia. Finalmente, deixa uma crítica muito marcada relativamente aos países antes pertencentes ao Pacto de Varsóvia ou que integravam a URSS: “O problema é que alguns dos antigos membros da URSS e actuais da UE não avaliam os seus vizinhos russos com os mesmos critérios de relação serena e positiva que todos desejaríamos”.
Hoje mesmo, no Kremlin, a missão chefiada por Sarkozy parece ter chegado a acordo com Medvedev sobre a retirada das tropas russas da Ossétia do Sul e da Abekázia, depois de aquele ter recebido garantias de que a Geórgia não voltaria a atacar aquelas regiões. Moscovo manterá o reconhecimento e continuará a patrulhar áreas adjacentes àquelas duas regiões.
Enfim, a Europa, com mais ou menos dificuldades, continuará a fazer o seu caminho na relação com a Rússia. Um caminho que os interesses europeus impõem diferente do dos Estados Unidos.
Certos sectores da nossa comunicação social, curiosamente os mesmos que ainda não digeriram a derrota de Savimbi, vão ter muita dificuldade em compreender isto e vão continuar, diariamente, a envenenar a opinião pública.

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