terça-feira, 30 de setembro de 2008

A RECUSA DO PLANO BUSH



POR QUE VOTOU CONTRA A CÂMARA DE REPRESENTANTES


O plano Bush na sua versão inicial era um exemplo acabado do capitalismo puro e duro, embora abrisse brechas incolmatáveis no plano ideológico.
Paul Krugman, mais uma vez, explica como ninguém a actual situação e demonstra, a partir da compreensão que dela tem, por que razão o plano Bush, na versão apresentada por H. Paulson, não levaria à solução do problema.
Krugman distingue quatro fases na crise financeira:
1. O estouro da borbulha imobiliária provocou um drástico aumento dos pagamentos em atraso e das execuções hipotecárias, factos que, por sua vez, induziram uma queda dos preços activos hipotecários, cujo valor, em última instância, resulta dos pagamentos dos empréstimos hipotecários;
2. Estas perdas financeiras deixaram muitas instituições com escassez de capital: poucos activos relativamente às dívidas; este problema é particularmente grave por que toda a gente contraiu muitas dívidas durante os anos de “enchimento da borbulha”;
3. Como as instituições financeiras têm muito pouco capital relativamente às dívidas, não querem, ou não podem, conceder o crédito de que a economia necessita;
4. As instituições financeiras tentam pagar a dívida mediante a venda de activos, incluindo os activos hipotecários, o que, obviamente, faz baixar o preço dos activos e piora ainda mais a sua posição financeira – a este círculo vicioso chamam alguns o “paradoxo do endividamento”.

O plano Paulson visava pura e simplesmente a compra dos activos problemáticos, nomeadamente os hipotecários, pelo governo federal. Ou seja, visava actuar sobre a quarta fase e romper o círculo do endividamento. Antes de mais, não está claro que o conseguisse, porque a pressão incide sobre todos os activos e não apenas sobre aqueles que o governo compraria. E mesmo que o círculo do endividamento fosse limitado, o sistema financeiro continuaria paralisado por escassez de capital, a menos que o governo federal pagasse pelos activos um preço muito superior ao seu valor real, proporcionando às empresas financeiras – aos seus accionistas e executivos - uma “pipa de massa” à custa dos contribuintes.
Exactamente por esta razão é que a aprovação do plano Bush, na versão Paulson, seria escandalosa.
Círculos ligados aos democratas entendem que a actuação tem de fazer-se, isto é, tem de incidir sobre a segunda fase, já que o grande problema das empresas financeiras é a falta de capital. E se o governo vai proporcionar mais capital às empresas financeiras deverá ficar na mesma situação daqueles que praticam esse tipo de actos, ou seja, deve ficar com uma parte da propriedade, de modo a que, se o plano vier a resultar, as suas vantagens não redundem exclusivamente a favor dos que provocaram a crise.
Paulson não queria nada disto. Queria um plano limpo: uma ajuda proporcionada pelos contribuintes sem condições e uma actuação discricionária, com total imunidade face aos tribunais e organismos administrativos.
A Câmara dos Representantes, não obstante todas as emendas entretanto introduzidas, votou contra. É errado supor que o tenha feito apenas por simples eleitoralismo. Certamente, que as eleições de 4 de Novembro pesaram na decisão dos congressistas que não dependem do partido, nem do executivo (contrariamente ao que se passa na maior parte da Europa), mas muitos dos que votaram contra fizeram-no também por entenderem que o sistema somente se regenera se “aqueles que erraram” arcarem com as consequências. Votaram contra, em defesa do capitalismo “na sua pureza original”, por entenderem que não cabe ao contribuinte recuperar as empresas que não têm condições para subsistir no mercado!

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