quinta-feira, 2 de outubro de 2008

AS REPERCUSSSÕES DA CRISE FINANCEIRA EM PORTUGAL

O QUE DEVE SER DITO

Sócrates, depois de ser mantido calado durante muito tempo sobre o que estava a acontecer, finalmente falou e não poupou nas palavras os especuladores. Falou em comícios e falou como Primeiro-ministro. Imputou responsabilidades aos Estados Unidos e exigiu que os americanos tomem medidas. Tudo bem ou quase tudo bem. Denunciar as actividades especulativas e exigir responsabilidades à administração Bush são factos que ninguém de bom senso contestará. Agora, o que não se pode é exigir aos congressistas americanos, defensores dos direitos dos seus concidadãos, que entreguem nas mãos dos banqueiros de Wall Street o dinheiro do povo e hipotequem por muitos anos a possibilidade de uma política social diferente na América.
É bom que se saiba que H. Paulson veio directamente da Goldman Sachs (como, de resto, a maior parte dos seus antecessores) para Secretário de Estado do Tesouro. E a desfaçatez desta gente é tal, que ele se preparava, na versão inicial do plano Bush, para transferir pura e simplesmente o dinheiro dos contribuintes para os bolsos dos banqueiros, em troca de lixo!
Entre nós falou também João Salgueiro, conhecido paladino do neoliberalismo, representante dos banqueiros nacionais, para dizer que a crise não nos afectará, “porque na Europa os dirigentes políticos não deixarão que os bancos quebrem”! Para quem andou toda a vida a propagandear e a defender o “free market”, não há nada como ver o emprego a arder para reclamar a intervenção do Estado!
E até Balsemão, que desde o 25 de Abril luta contra “o poder do Estado na economia” e não se cansa de o tentar afastar em tudo que possa trazer vantagens às suas empresas (como acontece com a televisão), disse-se muito feliz por sempre se considerar “um social-democrata”, subentende-se, contrário a estes procedimentos!
Mas há mais. Há a Ferreira Leite, conhecida pela gestão desastrosa que fez das finanças públicas e pela forma ruinosa como vendeu ao CityGroup os créditos fiscais, que não sabe o que há-de dizer sobre o que está a acontecer. E há o inefável A. Borges, putativo Messias do PSD, vindo – imagine-se! – também do Goldman Sachs, grande defensor da criatividade do “subprime”, que se tivesse um mínimo de dignidade política já se tinha demitido do lugar que ocupa no partido.
Enfim, do muito que sempre há para comentar sobre este tema, falta ainda discutir donde vem o dinheiro com que na Europa, designadamente na zona euro, se pretende atenuar os efeitos da crise. Fica para a próxima…

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