sexta-feira, 10 de outubro de 2008

DIRECTOR-GERAL DO FMI RECONHECE FRACASSO DA GLOBALIZAÇÃO DOS MERCADOS FINANCEIROS


RECONHECIMENTO CORRECTO, EMBORA MUITO TARDIO


O Director do FMI, Dominique Strauss-Kahn, reconheceu, na reunião de Outono das instituições de Bretton-Woods, iniciada ontem, que a actual crise financeira demonstra a falência dos sistemas regulatórios das economias avançadas, incapazes de fixar regras de gestão do risco para as maiores instituições privadas e de estabelecer mecanismos para disciplinar os mercados.
“Fracassou a tentativa internacional de adopção de mercados financeiros globalizados”, disse Strauss-Kahn, que igualmente reconheceu estar o mundo está à beira de uma recessão global da qual não recuperará antes do segundo semestre de 2009.
O que é lamentável é que tenha sido necessário que a casa tivesse começado a arder para se perceber que ela estava cheia de matérias altamente inflamáveis. E só não sabia isso quem não queria. Lembro mais uma vez o excelente livro de J. E. Stiglitz, Globalization and Discontents, editado em N.Y. em 2002 e também publicado em Portugal (Terramar), no mesmo ano.
Há comportamentos de pessoas com responsabilidades que não podem ficar impunes: banqueiros, executivos em geral e os próprios governantes, que nestas últimas duas, três décadas, actuaram mais como serventuários do grande capital, financeiro ou não, do que no interesse dos seus concidadãos.
E depois há que tirar consequências no plano institucional, tanto interna, como internacionalmente. O Primeiro-ministro não pode limitar-se a vociferar no Parlamento, perante o silêncio da esquerda, contra o capital financeiro e contra a desregulamentação da economia. Há, internamente, que aproximar os actos das palavras e, em Bruxelas, tirar a palavra aos lobbies que infestam a Comissão e ir criando as condições para o surgimento de uma União Europeia diferente daquela que resultaria do Tratado de Lisboa. Enfim, ingentes tarefas para um qualquer governo socialista comprometido com tudo o que se passou aqui em casa, na Europa e não apenas na América…
É bom que os incautos se não esqueçam que o famoso espírito anglo-saxónico que está na origem desta crise é o mesmo que, desde meados da década de oitenta do século passado, vem envenenando a União Europeia, tanto economicamente, como politicamente.
Primeiro, com as investidas liberais de Thatcher, consolidadas pelos seus sucessores e logo consagradas em leis comunitárias, muito facilitadas depois da queda do muro e da desagregação de União Soviética; e, depois, com o alargamento da UE a países que na realidade apenas aderiram à NATO e trouxeram para dentro daquela o espírito desta. Também neste plano vai ter de haver revisões…

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