sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O DEBATE JOE BIDEN/SARAH PALIN



MELHOR QUE O PREVISTO


O debate da madrugada de hoje, entre os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos, constituiu sob vários aspectos uma agradável surpresa.
Sarah Palin, embora tivesse papagueado o guião que lhe foi distribuído, fê-lo melhor do que se poderia esperar e seguramente muito melhor do que nas suas anteriores prestações em entrevistas televisivas. Demarcou-se de Bush, sem o comprometer, nas questões económicas e soube colocar no plano nacional e supra-partidário as consequências das mais deploráveis decisões de Bush em matéria de política externa, como em relação à guerra do Iraque. Via-se que trazia o discurso decorado, mas, quem está a habituado a fazer exames percebe que é daquelas alunas que, embora não seja a autora do discurso, sabe mantê-lo com uma certa coerência. E teve, além do mais, a inteligência de nunca ter saído das “matérias estudadas”. Quer isto dizer que não vai ser pelo debate com Joe Biden que ela deixará de figurar no “ticket” de McCain, como se chegou a admitir.
Joe Biden, que tem sido exageradamente caricaturado por algumas das suas pretensas (e inofensivas) gafes, saiu-se muito bem, sob certos aspectos melhor do que Obama no debate com McCain. Para quem não conhecia Biden e dele somente tinha a imagem fugaz de algumas participações em comícios e actos semelhante, o debate de ontem demonstrou que é um político muito preparado nas questões internacionais, o que, na América, á parte os especialistas, é raro, e com um registo histórico muito interessante de tudo o que se passou no Senado nestes últimos trinta anos. Soube sempre colocar-se no seu lugar relativamente a Obama, desferiu críticas contundentes contra os republicanos, não poupou os aspectos mais nefastos da Administração Bush e dos seus principais mentores (como Dick Cheney) e nunca se comprometeu, nem a ele nem a Obama, relativamente aos assuntos em que no passado divergiu do seu actual companheiro de lista. Exibiu segurança em todos os domínios do debate. Naturalmente ganhou.
A grande questão está em saber em que medida estão os políticos americanos preparados para o mundo de amanhã, que é seguramente um mundo em que a América deixará de ser a potência dominante. Já se percebeu que McCain não está preparado para compreender o que ai vem. Ele, mais do que nenhum outro, é um homem do passado. Poderia, se fosse eleito, ser muito mais perigoso do que Bush. Sarah Palin parece não ter desses problemas: levar os filhos ao hoquei, frequentar, como mãe de família, o Walmart, e continuar a gozar a felicidade de ser americano são certezas de que ela não abdica, nem acredita que possam ser questionadas.
Do lado dos democratas, como o discurso de Obama mudou muito das primeiras primárias para as presidenciais, ainda não se percebe muito bem como será a sua reacção aos desafios deste século, embora, a avaliar pelo seu discurso no debate com McCain, se receie uma reincidência nos aspectos mais negativos da política externa americana. Biden, curiosamente, pareceu um homem mais contido e mais reticente relativamente à continuação de certas políticas.

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