quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A ACÇÃO DO ESTADO E A CRISE FINANCEIRA



AS MEDIDAS ADOPTADAS NÃO IMPEDEM A RECESSÃO


Começa a ficar claro para qualquer não economista minimamente atento a estas coisas da economia que as medidas que os Estados adoptaram para combater a crise financeira não estão a produzir os resultados esperados.
A ideia inicial da Administração Bush é conhecida: comprar os chamados activos tóxicos e restaurar a confiança no sistema com o dinheiro assim injectado nos bancos. Depois, em consequência de violenta reacção dos contribuintes a tal medida, o Congresso americano introduziu várias alterações ao plano inicial sem contudo o descaracterizar completamente. Simultaneamente, Paul Krugman demonstrou que sendo a crise antes de mais nada uma crise de liquidez do sistema bancário, aquele plano não era apenas injusto, mas também ineficiente porque não restituía ao sistema os meios de que ele necessitava para apoiar a economia. E por isso propôs um conjunto de medidas que, no essencial, vieram a ser adoptadas por Gordon Brown e depois seguidas pela generalidade dos países da União Europeia.
Todavia, em escritos anteriores no NYT, Paul Krugman tinha advertido para o desconhecimento da verdadeira dimensão da crise, dimensão da qual nem os próprios bancos teriam perfeito conhecimento. E esta parece ser a razão pela qual as medidas que foram adoptadas se estão a revelar insuficientes.
Na verdade, nós vamo-nos gradualmente apercebendo de que os bancos continuam a debater-se com falta de liquidez, não obstante os meios postos à sua disposição quer para contrair empréstimos interbancários, quer para reforçar o capital. E também nos apercebemos de que esta ausência de liquidez não parece estar a resultar, pelo menos em grande escala, do pagamento de depósitos bancários, mas antes do pagamento de outros passivos e da ausência de aforro. De modo que, o problema inicial subsiste: a ausência de liquidez impede os bancos de apoiar a economia ou, em certos casos, apenas a poder fazê-lo a custos incomportáveis pelas empresas.
Isto parece querer dizer que o dinheiro que os Estados meteram nos bancos está a ser canalizado para outros fins: pagamentos de juros de empréstimos, pagamento de títulos, amortizações de empréstimos, etc, e como, por outro lado, o valor dos activos diminuiu drasticamente e os depósitos não aumentaram, pelo contrário, diminuíram, o problema de liquidez mantém-se e as empresas começarão a ir à falência (a procura diminui, os encargos correntes deixam de poder ser financiados pelo crédito, os despedimentos começam a ter lugar como medida de ajustamento e, depois, o resultado está à vista).
Os economistas que temos ouvido nas nossas televisões, todos da escola neoliberal (que levou o mundo à beira do caos), dizem-nos que os Estados só podem actuar junto do sistema bancário porque somente as intervenções “sistémicas” fazem sentido. As demais seriam arbitrárias.
Uma coisa é certa: ou bem que as intervenções no sistema bancário têm por objectivo salvar a economia, ou se destinam a salvar os bancos. Se têm por finalidade salvar os bancos, as repercussões da crise financeira na economia só cessarão quando se retomar a procura. O que acontecerá, não se sabe quando, embora se adivinhem as consequências do que até lá possa acontecer.
Se, pelo contrário, as intervenções têm por finalidade salvar a economia e reflexamente os bancos, então os governos vão ter que mudar de rumo uma vez chegados à conclusão de que as actuais medidas não estão a resultar. Ou seja, vão ter mesmo que injectar dinheiro directamente na economia, tanto nas empresas, como através do investimento público (um investimento que relance a procura, único critério de rentabilidade em épocas de crise!).
Em países como o nosso, repleto de “meninos de oiro”, o grande problema é a equanimidade dos critérios a utilizar…

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