sábado, 1 de novembro de 2008

AS AMEAÇAS DE LOUREIRO DOS SANTOS


O QUE QUEREM OS MILITARES?

Causaram generalizada perplexidade as afirmações de Loureiro dos Santos à SIC Notícias, logo apoiadas por Garcia Leandro e Matias Vieira e “compreendidas” por Valença Pinto, Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas.
Nenhum destes militares é conhecido pela sua simpatia por qualquer tipo de quebra da disciplina militar, nem por qualquer tipo de interferência dos quartéis na vida política nacional. Pelo menos, foram estes os princípios que eles apregoaram quando no exercício de funções de comando tiveram de reagir contra militares insatisfeitos com o rumo da vida política nacional.
Afastando e punindo aqueles que se julgavam historicamente legitimados para, de algum modo, condicionar as opções políticas dos governos que, em seu entender, mais se afastavam dos ideais de Abril, aqueles militares sempre justificaram a sua conduta no princípio constitucional da subordinação do poder militar ao poder político e nunca num qualquer nostálgico restauracionismo nas fileiras militares da velha ordem anterior ao 25 de Abril.
As declarações são ainda mais preocupantes por não se compreender muito bem a sua razão de ser, ou seja, nenhum dos militares acima citados apresentou qualquer fundamento para o descontentamento ou clima de mal-estar reinante nas forças armadas.
O que pretendem os militares, afinal? Forças Armadas mais modernas, mais bem equipadas? Aviões de combate, último modelo? Mais submarinos ou fragatas? Meios tecnológicos de última geração? Se essa for a razão do descontentamento, ela só demonstraria um profundo irrealismo das forças armadas relativamente ao país que têm por missão servir.
Será então por razões de cidadania e de apego aos ideais democráticos que os militares estão descontentes? Será a alta taxa de desemprego, a precariedade do posto de trabalho ou os baixos rendimentos dos seus concidadãos que os angustiam? Há muito tempo que os militares deixaram de se preocupar com estas questões…
Ou serão antes comezinhas razões corporativas que “ameaçam” destabilizar a democracia? Não quererão os militares melhores salários, mais rápida progressão na carreira, mais assistência na doença e na velhice?
Se estas são as verdadeiras razões do descontentamento militar – e parece que são, a avaliar pelas palavras de um dirigente da Associação dos Oficiais das Forças Armadas – qualquer ameaça, ostensiva ou velada, ou apenas insinuada, de uso da força militar para resolver um problema corporativo deve ser inequivocamente rejeitada pelo Governo sem qualquer hesitação.
As palavras do Secretário de Estado da Defesa foram firmes, mas não bastam. É preciso agir, como só em democracia se pode agir contra quem insinua poder usar a força militar para resolver um problema corporativo. Qualquer hesitação do Governo nesta matéria redundará numa fragilização do regime democrático e na criação de um clima de impunidade relativamente àqueles a quem a força militar foi confiada para defesa dos interesses do povo português e não para defesa de interesses próprios!

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