quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

HAVERÁ UMA NOVA DIPLOMACIA AMERICANA RELATIVAMENTE AO IRÃO?


A PROPAGANDA E A REALIDADE

Desde há uns dias que as agências noticiosas de todo o mundo vêm sendo inundadas com a notícia de que a diplomacia americana relativamente ao Irão vai mudar. Primeiro, foi Barack Obama quem o disse. Agora, é Hillary Clinton quem o repete no Senado.
Aparentemente, tudo bate certo. Os novos responsáveis sabem que têm de cortar cerce com o unilateralismo da anterior administração para restaurar a credibilidade da América. E Clinton, desde que está indigitada para chefiar a diplomacia americana, não se cansa de afirmar: “Os Estados Unidos não podem resolver sozinhos os problemas do mundo e o mundo não os pode resolver sem os Estados Unidos”. Por outro lado, é natural que os sucessivos fracassos da política americana relativamente ao Irão, traduzidos na radicalização da política iraniana, levem os novos responsáveis a tentarem outras vias. Obama fala em respeito pelo povo iraniano e H. Clinton em diplomacia inteligente e numa nova abordagem.
Aparentemente, tudo bate certo. Mas há algo que me intriga no que respeita ao Irão. Como se sabe, as responsabilidades americanas pelo que se passa no Irão são muito antigas. Datam dos tempos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial, ainda que, no início, elas tivessem sido secundárias face às inglesas. Depois, á medida que a América se foi impondo com o estatuto saído do conflito, foi assumindo, quase sem partilha, a condução da política “ocidental” no Irão. São eles que impõem o Xá e que fazem o golpe, orquestrado pela CIA, contra Massadegh. É a partir daí que tudo se complica.
Ontem por umas razões, hoje por outras, o Irão continua a ser uma questão estratégica para os Estados Unidos. Digamos que hoje a situação ainda é mais complexa porque aos típicos interesses americanos se juntam os do Estado judaico. A hegemonia militar de Israel na região apenas pode ser posta em causa pelo Irão. E não vai ser de braços cruzados que Israel vai assistir a qualquer política apaziguadora dos Estados Unidos face ao Irão. Aliás, nunca, desde a “Guerra dos seis dias”, os Estados Unidos conduziram na região uma política que verdadeiramente conflituasse com os interesses de Israel, tal como este os interpreta.
O que de certo modo me intriga nas notícias postas a circular sobre o Irão é o anúncio de uma nova política à margem de qualquer contacto diplomático. Num conflito de tantos anos não é normal que as coisas se passem assim. Primeiro actua-se e depois fala-se. Pode dizer-se que se está a preparar o povo americano para uma mudança: falar com um dos países do “Eixo de Mal” não é coisa que aconteça todos os dias. Mas esta razão também não me convence: o povo americano na sua esmagadora maioria não quer saber do Irão para nada. Isso é assunto que diz respeito a um pequeno número. E depois não é assim tão estanho falar com um país do “Eixo do Mal”, se até Bush, que inventou o conceito, já o fez.
Muito brevemente, o tempo dirá se os meus pressentimentos têm razão de ser…

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