quarta-feira, 11 de março de 2009

AS RELAÇÕES ENTRE PORTUGAL E ANGOLA

UM PERCURSO DIFICIL E ACIDENTADO

A visita oficial de José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola, a Portugal constitui um importante acontecimento da política externa portuguesa.
Quem conheça a história das relações entre os dois países, desde 11 de Novembro de 1975, data da independência de Angola, sabe que, apesar de sempre ter havido um estreito relacionamento entre as pessoas dos dois países e de nunca se ter quebrado o intercâmbio económico e comercial, as relações políticas passaram por momentos muito difíceis.
Para além dos sectores de esquerda que sempre mantiveram boas relações com Angola, é justo recordar aqueles que ao longo dos anos nunca esmoreceram na construção de uma relação normal com aquele país. Primeiro que todos, os militares do MFA, a começar por Rosa Coutinho, a quem Angola muito deve e também Costa Gomes que, com o apoio do Conselho da Revolução, reconheceu a independência de Angola, contra a vontade de Soares, Sá Carneiro e Freitas. Mas depois, também Eanes, como Presidente da República, soube resistir à permanente pressão do PS de Mário Soares contra um estreitamento de relações com Angola. Mais tarde, mas ainda durante a guerra-fria, Cavaco e Durão Barroso foram, no plano institucional, os grandes obreiros da normalização das relações políticas entre os dois países.
Contra a pressão dos americanos, que continuavam a apoiar Savimbi, contra Mário Soares e os seus amigos, que acima de tudo estavam contra quem fosse apoiado pelos “comunistas de Moscovo”, Cavaco e Durão Barroso não somente não desistiram de buscar a paz em Angola, embora sem êxito, como souberam construir uma relação de confiança com os dirigentes de Angola, de que agora se está colhendo os frutos.
Depois da derrota do apartheid sul-africano em Kuito-Kuanavale, nessa memorável batalha que mudou o curso da história na África Austral, e de que tão pouco se fala por cá, a paz em Angola seria uma questão de tempo. Com a morte de Savimbi, cujo fim provavelmente terá sido apressado pelos seus anteriores apoiantes, Angola recuperou finalmente a paz depois de mais de 40 anos de guerra.
Ainda antes da morte de Savimbi, mas já com o destino de Angola traçado, o Governo Guterres estreitou as relações com Angola, e o próprio Jaime Gama, como Ministro dos Negócios Estrangeiros, não hesitou, em mais uma disputa de Soares com os dirigentes angolanos, em desvalorizar o assunto para não prejudicar as relações entre os dois países, facto que lhe valeu até hoje a inimizade de Soares.
A seguir, novamente com Barroso, agora como Primeiro Ministro, e depois com Sócrates, as relações foram-se estreitando cada vez mais e com elas aumentando o intercâmbio e a cooperação entre os dois países.
Para além das “viúvas de Savimbi”, hoje quase circunscritas a João Soares e a Maria Antónia Pala, somente o Bloco de Esquerda experimenta dificuldades numa relação normal com Angola. Curiosamente, até o Público, do qual, durante a visita, alguns esperavam manchetes bombásticas ou algum editorial demolidor, optou pela normalidade jornalística e por editoriais versando sobre outros temas.

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