sábado, 14 de março de 2009

O PAPA SOB "FOGO CERRADO"

O QUE SE PASSA NO VATICANO

As declarações do número dois do Vaticano, Cardeal Tarcísio Bertone, assemelham-se muito às dos políticos na vivência de uma grave crise. Diz o Secretário de Estado do Vaticano: “O Papa não está só. Todos os colaboradores mais próximos lhe são lealmente fieis e estão profundamente unidos a ele”.
A convicção geral é que o Papa, depois de algumas decisões e tomadas de posição que o deixaram maltratado, ficou politicamente muito debilitado a seguir ao perdão dos bispos lefebvrianos, ainda por cima acompanhado do triste episódio do bispo Williamson.
Na carta que enviou aos bispos de todo o mundo e que veio a público esta semana em consequência de uma fuga de informação, o Papa faz autocrítica, lamenta não se ter informado melhor, nomeadamente através da internet, mas não se queixa das críticas dos que estão fora da Igreja, cuja colaboração até agradece. As suas criticas e mágoas vão inteirinhas para dentro da Igreja, com palavras muito duras e directas num estilo inabitual no Vaticano. L’Osservatore Romano, por seu turno, qualifica as críticas ao Papa como o maior escândalo dos tempos recentes, fala em miseráveis fugas de informação, em manipulações da Cúria e acusa-a de não cumprir os seus deveres
Marco Politi, vaticanista de La Reppublica, citado por El Pais, diz que a “Cúria está em debandada e o Papa continua encerrado no seu palácio”.
A revolta partiu dos teólogos alemães (mais de 60 já se manifestaram contra o Papa) e da respectiva hierarquia, depois alastrou à Áustria, França e Suíça. Verdadeiramente, a revolta tem o seu fundamento no facto de o Papa ter concedido o perdão aos dissidentes lefebrivianos sem antes lhes ter exigido a adesão ao Concílio Vaticano II, embora as declarações de Williamson sobre o Holocausto tivessem contribuído, e de que maneira, para agravar ainda mais as coisas.
Outros, mais políticos, gente da Cúria ou dela próxima, também criticam os frequentes recuos do Papa, impróprios de quem dirige uma instituição com a força e a influência da Igreja, como recentemente aconteceu com a revogação da nomeação do Bispo de Linz, o ultraconservador Gerhard Maria Wagner.
Tudo consequências da eleição de um Papa muito reaccionário, que vive isolado da nomenklatura da Igreja e do mundo, e que nem sequer com o seu pequeno círculo partilha suficientemente o processo de decisão.
Não há dúvida, desta vez Pacheco Pereira e o Espírito Santo enganaram-se!

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