quinta-feira, 26 de março de 2009

ZAPATERO VÍTIMA DO PROBLEMA TERRITORIAL DE ESPANHA


AINDA A QUESTÃO DO KOSOVO


Continua gerando muita polémica em Espanha a retirada unilateral das tropas espanholas do Kosovo.
Depois das explicações pouco convincentes da Ministra da Defesa nas Cortes (anteontem), a oposição, em bloco, aguardou a ida ao Parlamento do Primeiro Ministro (para tratar de outro assunto) para o fustigar sobre o modo como o Governo tratou diplomaticamente a retirada das tropas daquele território.
O PP, que está de acordo com a retirada e também a vinha exigindo, atacou impiedosamente Zapatero pelo modo como tudo se processou e pelo descrédito em que lançou a Espanha na cena internacional. A Esquerda Unida, que também concorda com a retirada, atacou o governo por o Parlamento não ter sido o primeiro destinatário da comunicação. E os partidos nacionalistas que, antes das eleições na Galiza e no Pais Basco, vinham apoiando o Governo nas Cortes, atacaram-no por ter retirado as tropas e alguns chegaram mesmo a dizer que Zapatero está mais próximo de Putin do que dos aliados.
Zapatero, certamente um dos governantes espanhóis mais progressista do último século, está ser vítima do problema territorial de Espanha e do modo como o mesmo é encarado pela direita espanhola e por largos sectores do seu próprio partido.
Pouco depois da sua chegada ao governo, há cinco anos, Zapatero pôs em prática uma política de diálogo com a ETA e outras forças nacionalistas que a apoiam. Foi ferozmente atacado pela direita, na altura indirectamente sob as ordens de Aznar, durante toda a legislatura, sem que simultaneamente tivesse gozado do apoio claro e inequívoco de sectores importantes do PSOE, ligados a Gonzalez. Se já era difícil levar a bom termo uma negociação desta natureza num quadro de consenso nacional, mais difícil, se não mesmo impossível, se tornaria fazê-lo num quadro político minoritário. Ao primeiro contra-tempo (uma acção armada da ETA para “medir o pulso” da outra parte), as negociações caíram por terra e com o seu fracasso ficou também enterrada a estratégia de Zapatero.
A partir daí, Zapatero, se queria voltar a ganhar as eleições, não tinha outra coisa a fazer que não fosse juntar-se às correntes nacionalistas espanholas que advogavam uma linha política de dureza, sem concessões, contra a ETA.
Assim fez. E é no novo contexto assim criado – que, sem dúvida, corresponde ao sentir maioritário dos espanhóis – que Zapatero se vê obrigado a apoiar o próximo governo do Pais Basco, baseado numa aliança do PSE-EE com o PP. Tão seguro estava Rajoy que Zapatero não tinha alternativa, que nem sequer, enquanto decorriam as negociações para assegurar o apoio parlamentar àquele governo, baixou o tom das críticas com que diariamente fustiga o Primeiro Ministro e o seu governo.
É ainda em homenagem a essa mesma política da integridade territorial da Espanha, que Zapatero retira as tropas espanholas do Kosovo, como já antes tinha sido ela a ditar o não reconhecimento da independência daquele território. E é então que – suprema ironia -, usando como pretexto uma questão de pormenor, o PP ataca violentamente o governo nas Cortes pelo modo como saiu do Kosovo, apesar de há meses vir exigindo essa retirada, e os nacionalistas, que antes apoiavam mais ou menos discretamente Zapatero, também atacam o Governo por ter saído.
O Governo ficou só e isolado, como certamente vai acontecer mais vezes no futuro.
Era previsível, mas é injusto para Zapatero. Ele que até é adepto do Barcelona…para marcar as suas distâncias relativamente ao clube franquista por excelência…

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