quarta-feira, 29 de abril de 2009

O GESTO DE GOMES CANOTILHO



APRESENTAÇÃO DO LIVRO DE PAULO RANGEL



Pode ter causado algum espanto, a presença de Gomes Canotilho na apresentação do livro de Paulo Rangel, em plena campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, conhecendo-se o apoio que o constitucionalista tem prestado ao PS nas Novas Fronteiras e a amizade e cumplicidade de muitas décadas com Vital Moreira.
Qualquer que seja o valor intrínseco do livro de Rangel - e tê-lo-á seguramente, de outro modo Canotilho não estaria lá – ninguém será ingénuo ao ponto de supor que a sua apresentação nesta altura se não insere na campanha eleitoral em curso, mesmo que a dita apresentação já estivesse marcada antes de Rangel saber que iria ser candidato. E é provavelmente o que deve ter acontecido.
Entre profissionais da política, seria perfeitamente normal, face a uma tão “radical alteração das circunstâncias”, que o apresentador comprometido com a prática do acto se escusasse agora a praticá-lo para evitar qualquer tipo de conotação ou aproveitamento político.
Acontece que Gomes Canotilho não é um político, nem deve nada à política. É o que sempre foi: um estudioso, um brilhante universitário desde sempre ligado aos valores fundamentais da democracia. Por isso, não me custa nada a admitir que a sua presença como apresentador do livro de Rangel tenha exclusivamente a ver com alguma admiração intelectual pelo autor, eventualmente também amizade. Subjacente a tudo isto, porventura inconscientemente, a convicção de que não há entre os dois candidatos do Bloco Central nenhuma diferença programática séria.

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