quarta-feira, 10 de junho de 2009

O AUTISMO EM POLÍTICA

NÃO SE CORRIGE QUEM NÃO TENTA COMPREENDER

Nada pior em política do que não saber fazer as perguntas correctas para as questões que nos preocupam.
Se as eleições me correm mal e eu continuo a atribuir a causa desse fracasso à abstenção ou à ausência de discussão de questões verdadeiramente europeias e me sinto confortável com essa justificação, é óbvio que eu reúno todas as condições para que as coisas me continuem a correr mal no futuro.
Se eu tenho a convicção de que a fraca afluência às urnas me prejudicou ou se estou igualmente convencido que o resultado poderia ter sido diferente se eu tivesse podido debater temas europeus, a primeira coisa que eu tenho de fazer é interrogar-me por que isso aconteceu e não me contentar com a descrição do fenómeno como razão explicativa suficiente do meu fracasso.
Mas há quem não queira fazer perguntas, formular questões, por temer o resultado das respostas. Só que este caminho, autista, é perigoso, neste caso mais do que em qualquer outro. Encontrar repostas para aquelas perguntas revela-se cada vez mais urgente e necessário, já que não é crível que a União Europeia possa por muito mais tempo continuar a resistir a eleições como estas.
Aliás, nem sequer se compreende, a menos que as palavras já tenham em política perdido todo o sentido, que se possa assumir a responsabilidade por uma derrota sem compreender cabalmente as causas dessa derrota e sem depois tirar todas as consequências da assumpção dessa responsabilidade.

3 comentários:

  1. Há também quem tenha formulado as perguntas devidas (o que já representa um progresso), mas depois se tenha considerado satisfeito com respostas demasiado simplistas. Respostas que apontam para défice de cidadania ou de oportunismo dos partidos de oposição. E até há quem tenha encontrado a solução para colmatar o défice mediante a imposição do voto obrigatório dentro daquela lógica muito comum de confundir a causa com o sintoma e se proponha erradicar o mal através da tentativa (infrutífera) de eliminar o sintoma que toma por causa.

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  2. A questão é definir prioridades de acção para uma efectiva mudança estratégica das políticas europeias; para tal, impõe-se a elaboração de directivas que a operacionalizem essa estratégia segundo objectivos direccionados para metas alcançáveis segundo metodologias específicas adequadas... porém, nada disto encontrará condições para poder ocorrer sem uma correlação de forças políticas que viabilize a aposta na mudança... e é aí que reside o problema: na construção de consensos que só de um reconhecimento comum podem resultar... o pior é que o actual panorama não oferece grandes indicadores para a esperança... pelo contrário! ... por isso, só a partir da humildade democrática das convergências por objectivos, poderemos encontrar caminhos que, a médio prazo, nos recoloquem num ponto de partida a partir do qual se possa avançar... urge, antes de mais, deixar de rejeitar todas as negociações em nome de uma verdade que, como sabemos, é sempre relativa... seria um exercício altruísta, é um facto e, pelo que nos é dado ver, lamentavelmente, não "está na moda"... Um abraço.

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  3. Ó Zé, não batas mais no ceguinho! ;-)

    Estou a brincar. Porque, para falar a sério, diria que o seu artigo na coluna habitual de 3ª feira no Público é inconcebível. Com dois dias de possível reflexão, vem repetir exactamente tudo o que disse no domingo e que se podia desculpar no calor do momento.

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