POR FAVOR, PEÇAM-NOS PARA OS RECEBERMOS
Cerca de cinco meses depois de empossada a administração Obama, o Ministro dos Negócios Estrangeiros português vai, finalmente, ser recebido na próxima sexta-feira pela sua homóloga, Hillary Clinton.
Luís Amado considera que já há suficiente harmonização entre os países da União Europeia para que, doravante, os que assim o desejarem, possam responder favoravelmente aos pedidos americanos de recepção dos detidos de Guantánamo. E que Portugal só espera uma solicitação concreta e directa dos Estados Unidos para poder considerá-la.
Não tínhamos dado conta que, não obstante as insistências de Amado, haja no quadro comunitário uma posição comum. Pelo contrário, o que tem resultado das várias vezes em que o assunto já foi tratado é uma grande divergência de posições entre os Estados membros, com a agravante de, no âmbito do espaço Shengen, a decisão tomada por um Estado afectar necessariamente os demais. O que o Ministro talvez tenha querido dizer é que não havendo possibilidade de acordo, cada um assumirá as suas responsabilidades.
Para além desta questão prévia, não pode deixar de estranhar-se que este assunto constitua uma prioridade para o Governo português nas negociações de sexta-feira, em Washington. O Ministro com um afã de mostrar serviço aos “queridos aliados” começou por voluntariar-se, sem sequer ter ouvido os parceiros comunitários e sem, internamente, ter ouvido outras entidades, nomeadamente o Presidente da República. Passados vários meses, sem que os americanos tenham apresentado qualquer solicitação, o Ministro continua a voluntariar-se e a oferecer-se, quase pressionando os americanos para que lhe peçam o translado de prisioneiros para Portugal.
É uma “diplomacia” difícil de compreender e seria muito mais avisado da parte do Ministro, em vez de andar a tentar prestar um serviço que ninguém lhe pediu e que os portugueses seguramente rejeitam, interrogar-se sobre as razões que têm levado os americanos a não desejar esse favor de Portugal…
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