SOBRE A VOTAÇÃO PARA SECRETÁRIO-GERAL DA UNESCO
Noticiam os jornais que o Embaixador de Portugal na UNESCO, MM Carrilho se recusou a votar no candidato indicado pelo Governo para Secretário-Geral daquela organização e que de Lisboa teve de ir um diplomata para votar segundo a orientação do Governo.
Não se pode acreditar em tudo o que os jornais dizem, e menos ainda em jornais como o Publico, mas a notícia, a ser verdadeira – e vamos admitir que não se trata de mais uma conspiração, desta vez contra Carrilho – dá que pensar.
Dá que pensar antes de mais pelo lado de Carrilho. O Embaixador de Portugal na UNESCO está no pleníssimo direito de não concordar pessoalmente com o voto ditado pelo Governo de Lisboa para a eleição de Secretário-geral da UNESCO. E nessa discordância não há seguramente qualquer originalidade, tantas e tantas são as vezes que os embaixadores se defrontam com situações desta natureza. A originalidade está em o embaixador ter dito que não votaria, segundo aquelas instruções. Como desta atitude se depreende que Carrilho só há dias passou a ter elementos para perceber em que consiste a função de embaixador, espera-se que já tenha também tido tempo para pedir a sua demissão por incompatibilidade da sua personalidade com o cargo que desempenha.
Admitindo, e é muito provável que isso tenha acontecido, que Carrilho continue sem perceber em que consiste a função para que foi nomeado, espera-se que o Ministro dos Negócios Estrangeiros (a menos que ande muito ocupado a elogiar personalidades do PSD ou tratar de trazer para cá mais detidos de Guantánamo) o demita já.
Admitindo, e é também muito provável que isso tenha acontecido, que o Ministro entenda não dever fazer uso da sua autoridade num caso desta natureza, por aquelas ou outras razões, porventura, porque não deve esbanjar energias que lhe fazem falta para continuar a combater no Afeganistão ou para defender a inocência dos governos portugueses no transporte de prisioneiros para Guantánamo, espera-se que o Primeiro-ministro, sem demora, demita Carrilho e, depois das eleições, ajuste contas com Amado.
Carrilho tinha razão na questão de fundo.Em princípio, deveria demitir-se. Ao que parece,encontrou-se uma posição de compromisso:seria substituído nas votações. Tanto quanto é possível julgar, não me parece mal.Creio que Correia Pinto ferve em pouca água, neste caso. Animosidade pessoal?
ResponderEliminarMeu Caro
ResponderEliminarDiscordo. Não pode na diplomacia haver uma regra para o Carrilho e outra para a generalidade dos diplomatas.
Nada tenho contra Carrilho. Conheci-o numa viagem de Guterres a CV, em que eu também ia. Ele quis assinar uma série de acordos para os quais não tinha dinheiro e que, por isso, nunca seriam cumpridos. Como isso desprestigiaria ainda mais a nossa cooperação, opus-me e o Zé Lamego deu-me cobertura...
Não decore dai qualquer animosidade da minha parte...
CP
Pinto:
ResponderEliminarO essencial da questão comecei a percebê-la através dos comentários que, ontem (23) e hoje (24) de M.A. PINA, na última pág. do 'JN'.
Afinal o homem que vem para a UNESCO não é 'flor que se cheire' e
- o que é mais grave - por detrás há uma negociata política do MNE relacionada com lugar na ONU.