JUSTIFICAR O INJUSTIFICÁVEL

O VOTO DE ANA GOMES NO PARLAMENTO EUROPEU

Ana Gomes tem um problema com Barroso. Talvez mais do que um problema, uma obsessão. A todo o momento este sentimento esteve presente durante o primeiro mandato de Barroso, principalmente a propósito dos voos da CIA e do rapto de cidadãos de islamistas pela gente de Bush.
As obsessões tratam-se. Na vida pessoal e familiar são graves e podem trazer consequências desastrosas. Na vida política, depende. Até podem ser um bom motivo de polémica, se o obsessivo tiver apenas pequenas e médias responsabilidades políticas, como é caso de AG.
Há cinco anos, AG votou contra a eleição de Barroso, porque quem não era bom para o governo Portugal não poderia ser bom para o governo da Europa (argumento General Motors, pela negativa). Cinco anos depois, o seu entendimento reforçou-se…e absteve-se.
Não sei bem qual é a disciplina de voto dentro do PSE (ou lá como agora se chama), nem dentro de cada um dos agrupamentos nacionais pertencentes àquele grupo parlamentar, mas, a avaliar pelo que se passou, parece que não é nenhuma. Pura e simplesmente não existe.
Não se percebe, então, por que razão Ana Gomes não votou contra. Parece que foi porque com Barroso na Comissão se podem arranjar mais uns empregos para portugueses. Ou seja, Ana Gomes é contra Barroso porque ele não promove a igualdade nem a justiça, mas abstém-se porque, com ele à frente da Comissão, a empregabilidade de mais portugueses quase compensa aquelas graves lacunas.
Como sempre, os raciocínios de AG são logicamente insustentáveis. Se na UE existem regras claras e transparentes para a colocação nos diversos órgãos da União de nacionais dos Estados-membros, o que AG sub-repticiamente está a fazer é um apelo à desvirtuação dessas regras, com prejuízo da justiça e da igualdade. Se não existem, e prima em grande medida a discricionariedade, o que AG está à espera que aconteça é que essa discricionariedade se acentue, desta vez em favor dos portugueses, igualmente com prejuízo da igualdade e da justiça.
E vá lá a gente entender as razões de um voto!