COM O QUE CONTA SÓCRATES
A primeira experiência de governo "PS sozinho" não correu bem. É certo que era outro tempo político, mas não correu bem, apesar de a direita ter uma grande dívida de gratidão para com Soares. Uma moção de censura derrubou Soares. A segunda experiência cumpriu a legislatura, também em condições muito diferentes das de hoje. O país vinha de dez anos de cavaquismo, ninguém mais queria tão cedo voltar a ouvir falar de PSD e o próprio PSD percebeu isso. De qualquer modo nunca poderia contar com a CDU, nem com o PP para uma iniciativa destinada a pôr termo ao governo de Guterres. A terceira experiência também correu mal, apesar de Guterres ter metade dos deputados no Parlamento. Poder-se-á dizer que a instabilidade veio mais de dentro do que de fora, que houve falta de liderança e outras coisas do género. E provavelmente tudo isso é verdade, mas o certo é que a experiência foi curta e correu mal.
Tendo em conta este passado, o que levará Sócrates a arriscar uma experiência do mesmo tipo?
É claro que antes de mais se poderia dizer o que muitos já têm dito, inclusive em comentários neste blogue, sobre essa estratégia. Ou seja, que essa é a opinião da maioria do eleitorado do PS e que essa é também a única forma de manter intacta a individualidade do PS no panorama político partidário português.
Tudo isto é muito verdade, mas a questão está em saber se um governo do PS sozinho tem viabilidade para governar sem que da sua instabilidade decorra um prejuízo político-eleitoral para o partido. Se o PS chegasse à conclusão que dessa forma de governo resultaria a prazo um prejuízo para o partido, certamente que Sócrates mudaria de opinião. E não muda, em nosso entender, por duas razões.
Primeira - Sócrates sabe muito bem que Cavaco Silva está fragilizado e, diga o que disser amanhã, essa situação vai-se manter até ao fim do seu mandato. E se Cavaco acalenta alguma esperança de se recandidatar a um segundo mandato, depois que se passou nestes últimos tempos, a última coisa que ele pode fazer é arranjar um conflito sério com o PS.
O segundo ponto que Sócrates tem por certo é que o resultado das eleições verdadeiramente só não agrada ao PSD. Os demais partidos, nomeadamente o CDS e o Bloco, estão satisfeitíssimos com a bancada parlamentar que têm e não arriscariam tão cedo voltar a pô-la à votação do povo português. Somente o PSD poderia estar interessado nisso. Mas para isso precisaria de partir com outras certezas e outra credibilidade, factos que, olhando para o panorama do partido, se não vislumbram nas suas fileiras.
Veremos mais tarde se estas razões são consistentes…
Não sei bem onde calha melhor este comentário, se aqui se no post sobre o senhor da CIP. Tanto faz.
ResponderEliminarComeço por dizer que, conforme os mails que ontem trocamos, nós e amigos do peito, até parecia que conseguimos o que queríamos: PS em primeiro mas sem maioria absoluta. Fizemos cálculos, votámos útil e racional, em discordância com gente que já só está para votar do fundo da alma, como os votos em branco, de protesto, da minha mulher e do Marcelo.
Ganhámos o essencial mas perdemos em coisas que podem vir a ser muito importantes. Como dizes, Sócrates pode bem não pensar em coligações, porque tem mais margem de manobra dada por, estes resultados.
1. Entendimentos do PS à sua esquerda vão ser difíceis, precisam de concordância de ambos, BE e PCP/PEV. Esta dificuldade é fácil razão para explicar o essencial, a total distância de Sócratesn em relação e essa esquerda.
2. Entendimentos com o CDS dão logo maioria. Afinal, o CDS não pode deixar cair facilmente muitas das suas posições de direita económico-liberal, porque afinal também não não são radicalmwenteb diferentes do blairismo do PS socrático? Receio que o próximo governo seja muito, na prática, uma convergência PS-CDS, mesmo que não formalizada como coligação. Desde logo, na velha tradição do rotativismo, será coisa de divisão partidária na união do sentar à mesa do orçamento.
3. Pior, há outra possibilidade, a de negociações do PS com o PSD para garantir a abstenção do PSD, o que faz passar qualquer lei.
Com tudo isto, receio que o próximo governo vá ser mais à direita do que o anterior. Será que a luta extra-parlamentar ainda vale e que pode levar a pensar, como já se diz, que isto é governo para dois anos? Espero que sim.
Meu Caro João:
ResponderEliminarA hipótese de o PS se entender preferencialmente à direita é muito provável ou quase certa. Quanto à hipótese de o próximo governo ser mais á direita que o anterior, não será muito provável, tendo em conta o que foi a política do anterior. E no anterior o PS poderia sempre fazer uma política de direita sozinho parecendo que estava permanentemente zangado com o CDS e o PSD (como se via nos debates quinzenais). Agora, medidas da mesma natureza já teriam de ser ostensivamente aprovadas com o voto da direita, em aliança, e isso, como regra, é mais difícil para eles. Vão ter que simultaneamente dar alguma coisa á esquerda. E na execução desta estratégia é mais provável que o PS dê algo à esquerda nas questões fracturantes do que propriamente nas económicas. Com isso cala parcialmente ou pontualmente o Bloco e pode inclusive ser levado a pensar que ao PC não é necessário dar quase nada…porque o PC não lhe tira votos.
Mas aqui é que o PS, ou os seus estrategas, se enganam redondamente. O PC pode, de facto, não tirar proveito directo da contestação, mas a sua influência social e a sua capacidade de mobilização é tal que, mesmo não tirando proveito directo, causa sempre, indirectamente, muita mossa ao PS. O caso dos professores é paradigmático. Mas há outros.
Concluindo, enquanto o PSD estiver como está – e vai continuar assim por muito tempo – o parceiro privilegiado do PS vai ser o CDS…embora preferisse o PSD.
cp