sexta-feira, 25 de setembro de 2009

POR QUE NÃO DEU CERTO O DISCURSO DA "ASFIXIA DEMOCRÁTICA"


O ATOLEIRO EM QUE O PSD SE METEU

A conversa da “asfixia democrática” como tema de campanha do PSD falhou por duas razões muito óbvias, porém contraditórias, e por uma terceira inconfessável.
Sem nunca entrar em linha de conta com a eventual verosimilhança entre a situação político-social vivida no país e o slogan da campanha, facto que para o efeito não é chamado à colação, pode dizer-se que a questão da “asfixia democrática” como tema de campanha falhou, antes de mais, porque o tema em si não diz absolutamente nada ao eleitorado típico do PSD. Quer lá saber o eleitorado do PSD que vota Valentim Loureiro ou Jardim que haja ou não haja asfixia democrática. Isso não sensibiliza rigorosamente nada o eleitorado do PSD dos lugares recônditos do Minho, tanto em Viana como em Braga, de Trás-os-Montes, em Vila Real ou em Bragança, nas zonas mais recuadas de Aveiro, de Viseu e da Guarda. Basta ouvi-los falar livremente na rádio e na televisão, quando lhes abrem as antenas, para logo se perceber que o que eles acham é que há liberdade a mais.
Mas falhou também porque os intérpretes dessa campanha não são nessa matéria politicamente credíveis, quer junto do eleitorado do PSD mais progressista (sirva de exemplo a posição de MRS), quer junto daquele eleitorado a que Sócrates chama a esquerda moderada. A “asfixia democrática” trazida à discussão política por Ferreira Leite, Aguiar Branco, Borges e outros, não tem qualquer credibilidade, por nenhum desses actores ter nessa matéria um passado que fale por si. Mas também não tem, mesmo quando trazido a debate por Pacheco Pereira, porventura o inspirador do slogan. Não tanto pelo seu passado, não obstante as simpatias maoístas e estalinistas, já que sempre tem a seu crédito a resistência anti-fascista, mas por ser unanimemente considerado dentro e fora do partido um sectário cada vez mais incorrigível. Ou seja, ele não cativa com a sua argumentação o eleitorado típico do PSD e está politicamente descredibilizado junto do tal eleitorado moderado.
Finalmente, a campanha não pegou, por uma terceira razão, essa inconfessável. Como já aqui dissemos, há um grande número de pessoas, quadros superiores, tanto empregados no Estado em sentido lato, como nalgumas empresas privadas, que pula do PSD para o PS e do PS para o PSD, consoante um ou outro estão no poder. Quando são chamados a dar o seu apoio a quem já está no poder, não há para essas pessoas qualquer problema. O apoio é dado. Quando são chamados a dar o seu apoio a quem ainda não está no poder, há duas situações a considerar. Ou quem não está no poder não tem nenhuma hipótese de lá chegar, e nesse caso o apoio solicitado é recusado sem mais delongas; ou quem não está no poder tem hipóteses de lá chegar. Aí começa o drama, porque ainda não há certezas e ninguém se quer afastar decisivamente de qualquer dos lados porque ambos podem ainda ganhar. É, portanto, natural que estas pessoas, se solicitadas a dar o seu apoio ou colaboração ao PSD antes ou durante a campanha, o tenham feito “clandestinamente” alegando medo de represálias.
O PS passou por uma situação idêntica aquando dos Estados Gerais, depois de 10 anos de cavaquismo. Os “clandestinos” eram mais que muitos, provenientes de todos os sectores, alguns até vindos dos gabinetes dos ministros cavaquistas.
Sim, para estes oportunistas há indiscutivelmente “asfixia democrática”. Mas quem se atreve a descrevê-la cruamente?

2 comentários:

  1. Não está mal visto, não senhor. Cumprimentos

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  2. E depois, se é democrática... está-se bem. É como a ditadura do proletariado e tal. O pior é quando o domingo calha num feriado - ou ao contrário, tanto faz.

    Se já tinha ali à mão o socialismo democrático, para quê tanta confusão, dona Manuela?

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