quarta-feira, 2 de setembro de 2009

UMA ENTREVISTA E UM DEBATE

UMA ENTREVISTADORA DÓCIL E UM OPONENTE DEMAGOGO

José Sócrates em dois dias seguidos apareceu na TV a defender o seu programa eleitoral para a próxima legislatura. Deixando agora de parte o valor político de um programa eleitoral neste tipo de democracia representativa – facto que recorrentemente temos abordado -, não há dúvida de que as duas primeiras grandes presenças televisivas de Sócrates na campanha lhe foram favoráveis.
Para além do seu mérito pessoal, dois factores não negligenciáveis concorreram para esse resultado: a docilidade da entrevistadora na “Grande entrevista” e a grande demagogia do seu oponente no primeiro debate.
Na “Grande entrevista” Sócrates teve oportunidade de apresentar sem oposição e algumas vezes com brilho a defesa das suas políticas passadas e a promessa das suas políticas futuras. E até na educação, porventura o sector mais crispado da sua governação, Sócrates conseguiu apresentar os créditos que o sector reclama, obnubilando com uma linguagem diferente e um tom de voz adequado os débitos que todos reconhecem.
Andou bem também na caracterização de MFL como a líder mais retrógrada que Portugal conheceu desde o 25 de Abril, ilustrando essa caracterização com muitos exemplos, que, de resto, estão praticamente presentes em suas todas as intervenções.
No debate de hoje, dado o recíproco conhecimento dos contendores, não foi difícil a Sócrates ajustar o seu discurso à conhecida demagogia do seu oponente. Portas descaracterizou o CDS. Tanto o CDS de direita disfarçado de centrista, como o CDS liberal, em que alguns, utopicamente, o quiseram transformar. Portas é um político de direita, com queda para o populismo, que busca “nichos de mercado eleitoral” onde vislumbra uma hipótese de “lucro”. O seu único objectivo é chegar ao poder, mesmo como subalterno, certo de que essa conquista lhe assegurará a respeitabilidade em áreas onde agora não penetra. Para o conseguir, não hesita em recorrer aos mais diversos meios. Só que, Portas não é virgem. E quando pretende passar essa mensagem de interesse pelos desprotegidos, pelas PME, pela redução da carga fiscal, etc., lá vêm à memória as “histórias” de Abel Pinheiro, as pressões sobre o pobre do Telmo, etc.
Ou seja, não adianta levar a sério praticamente nenhuma das propostas que Portas apresenta, porque, com excepção da privatização parcial da segurança social e da desvalorização da escola pública, indiciadas pelo seu discurso, tudo o resto não passa de pura propaganda eleitoral.

2 comentários:

  1. Mutatis mutandis, o que diz da demagogia de Portas poderia dizer de Sócrates. O seu último parágrafo, p.e., ficaria assim: não adianta levar a sério praticamente nenhuma das propostas que (Sócrates) apresenta, porque (com raras excepções), tudo não passa de pura propaganda eleitoral.

    E não digo isto com prazer, acredite. Porque muito pior disse de Bush e com alegria aderi a Obama.

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  2. Meu Caro antónio p.m.
    O problema não está tanto no que Sócrates diz a Portas ou dirá a MFL, mas no que vai dizer a Jerónimo e a Louçã, porque nos debates com estes é que ele vai ter de se explicar sobre temas que até agora não teve necessidade de abordar, nomeadamente relações de trabalho, modo como o Estado intervem na economia, "parcerias" público-privadas, oneração dos mais fracos para combarter o défice, repartição do rendimento entre o capital e o trabalho, e por ai fora. Tudo questões que a direita não aborda ou que só demagogicamente pode focar.
    JMCP

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