DUAS OU TRÊS NOTAS
Já muito se escreveu e falou sobre o alargamento a leste da União Europeia. Primeiro disse-se que era uma dívida que os europeus ocidentais tinham para com os irmãos do leste, submetidos durante décadas ao “jugo soviético”. Dívida que não poderia deixar de ser paga logo que o credor a reclamasse. Quaisquer que fossem as dificuldades em que o devedor ficasse para a cumprir.
Passada a euforia que se seguiu à Queda do Muro e integrados na órbita capitalista os países do leste europeu, não faltou quem perguntasse por que razão pôs a Inglaterra (isto, é o Reino Unido) tanto empenho no alargamento da União quando, secretamente, antes tinha feito tudo quanto estava ao seu alcance para impedir a reunificação da Alemanha. E, então, muitos disseram que nada melhor para acabar com o sonho de uma Europa Unida do que aumentar desmesuradamente o número dos seus membros, economicamente tão diferenciados dos do ocidente europeu. Com o alargamento consagrava-se um amplo mercado livre e, simultaneamente, constituía-se um obstáculo por muitos anos intransponível à criação da unidade europeia. Ou seja, tudo muito coincidente com os interesses ingleses.
Mas houve também quem pragmaticamente dissesse que o alargamento a leste tinha de ser feito rapidamente enquanto a Rússia estava fraca para obviar à sua oposição futura.
É natural que haja um pouco de verdade em tudo isto, sem todavia esquecer que o alargamento da UE foi sempre antecedido da integração na NATO dos respectivos países. E a propósito do significado desta integração, é que nenhuma dúvida pode subsistir: para a Rússia ela representa um cerco; para os países integrados, a defesa da sua soberania. A cada um, sua razão.
Do ponto de vista que mais nos interessa, pelas repercussões que o facto tem na União Europeia, mais do que uma adesão dos países do leste à Europa, o que verdadeiramente houve foi uma adesão à NATO.
A verdade é que, consumada a adesão, nem por isso se eliminaram os problemas que cada um dos países integrados carrega em si. Todos estes países, sem excepção, têm uma história tumultuosa de independência e nenhum tem fronteiras que tenham durado sequer um século!
Perante este quadro e as vicissitudes por que passou aquela ampla região da Europa durante todo o século XX não é de estranhar nem que o alargamento levante tantos problemas de difícil solução, nem que sejam assim tão incompreensíveis as garantias exigidas pelo Presidente da República Checa para ratificar o Tratado de Lisboa. Todos esses países têm problemas territoriais e populacionais complexos. Uns querem manter o status quo saído da II Guerra Mundial, outros querem mudá-lo, agora que a situação na Europa se alterou tão radicalmente depois da Queda do Muro.
Estará o Tratado de Lisboa á altura destes problemas? A questão é que o Tratado de Lisboa supõe resolvidos estes problemas…
Concorde-se ou não - e eu concordo - trata-se duma brilhante análise.
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