quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

AFEGANISTÃO - A ESCOLHA DE OBAMA


NADA PIOR DO QUE FICAR A MEIO CAMINHO…

Depois de meses de reflexão sobre o envio de novos contingentes militares para o Afeganistão, Obama acabou decidindo-se pelo reforço da presença militar americana no quadro de uma nova estratégia.
Segundo as palavras do Presidente americano, esta nova estratégia visa eliminar a ameaça talibã, garantir a segurança das populações e treinar as forças afegãs, com vista a uma transferência progressiva das responsabilidades militares.
A verdade é que esta estratégia nada tem de novo, salvo o ter sido publicamente explicitada pelo Presidente dos Estados Unidos da América. Já há muito se sabia que os americanos e os seus aliados não estavam em condições de vencer a guerra no Afeganistão. Não estavam, antes de mais, porque nem a América, nem os seus aliados, têm uma situação económica que lhes permita fazer face a um incremento exponencial das actividades militares. Não estavam, além disso, em condições de vencer a guerra, porque as respectivas opiniões públicas rejeitam inequivocamente a actual presença militar no Afeganistão, quanto mais a sua intensificação.
Quando uma guerra não pode ser ganha, qualquer estratega sabe que o objectivo que imediatamente se segue é o de não a perder. Esta parece ter sido a verdadeira estratégia de Obama: ciente de que não poderia ganhar a guerra (contrariamente ao que deu a entender durante a campanha eleitoral), Obama procura agora não a perder.
Só que, para não perder a guerra, tanto ou até mais do que o controlo da situação interna do Afeganistão, Obama precisaria do apoio das principais forças políticas e militares americanas nela envolvidas e dos seus aliados europeus. E esse apoio Obama não o tem, nem o terá.
Não terá o apoio dos republicanos, da extrema-direita à direita tradicional, não apenas por convicção política radicada na ideia de que para a América a vitória é sempre possível, mas, principalmente, porque um falhanço de Obama no Afeganistão constitui o meio mais rápido e eficaz de o retirar da Casa Branca.
Não terá o apoio dos militares, não obstante o bom senso de Robert Gates, que, como sempre, tendem a responder a uma nova dificuldade com o pedido de mais tropas, mais créditos e maior envolvimento politico-militar. E como acabou de se constatar, os militares americanos já estão em condições de autonomamente, embora em consonância com o complexo militar-industrial, levar a cabo uma campanha pressionante sobre a opinião pública que lhes interessa atingir e o próprio Presidente.
Não tem o apoio militante do seu partido, cujas faixas mais progressistas e liberais (no conceito americano do termo) desaprovam radicalmente a aventura militar americana no Afeganistão.
Não tem, por último, o apoio do vasto eleitorado de esquerda que o elegeu, que vê na decisão de Obama uma cedência inqualificável às piores tradições da direita americana.
Também não tem o apoio dos grandes aliados europeus que já há muito perceberam que a guerra no Afeganistão é uma guerra sem saída e que vêem nesta nova estratégia um motivo acrescido para as suas reticências. O apoio que poderá recolher junto dos pequenos parceiros sempre solícitos e prontos nas respostas condizentes com a vontade da América, acaba, pela heterogeneidade da ajuda prestada, por ser mais prejudicial, pelos problemas de coordenação que levanta, do que vantajoso.
Embora ciente destas dificuldades, Obama, fiel ao seu espírito de conciliador, optou por contentar todos, ficando a meio caminho entre o maior envolvimento e a retirada: anunciou o envio de mais umas dezenas de milhares de militares e simultaneamente estabeleceu um prazo para o início da retirada. Só que acaba por não contentar ninguém: não agrada aos seus que têm historicamente razão para desconfiar das ”retiradas” que exigem mais esforço militar em homens e material e não recolhe o apoio dos oponentes que vêem na data indicada uma pura arbitrariedade sem qualquer apoio na realidade.
Obama, supondo que conciliava e, simultaneamente, pressionava os militares e os “falcões” a agir depressa e bem, acabou por adoptar uma estratégia que, verdadeiramente, só a ele próprio o pressiona.
Esta decisão bem pode ser o princípio do fim de Obama na Casa Branca…

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