sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

FRANÇA: DEBATE SOBRE A IDENTIDADE NACIONAL



O QUE É SER FRANCÊS HOJE

Esta a correr mal a Sarkozy e ao seu Ministro Éric Besson o debate sobre a identidade nacional promovido pelo governo. É hoje ponto assente que o debate tem servido para dividir ainda mais a sociedade francesa, pois, como era de esperar, principalmente depois do artigo escrito no Le Monde pelo Presidente, o debate transformou-se rapidamente numa discussão sobre o que é ser muçulmano hoje, em França.
Sarkozy tinha em vista com o lançamento do debate capitalizar simpatias no eleitorado da extrema-direita nas próximas eleições regionais, mas as contas podem sair-lhe furadas e acabar perdendo de ambos os lados, à direita e à esquerda.
A esquerda não lhe tem poupado críticas, acusando-o de ter desencadeado um clima xenófobo e racista, enquanto a direita, a que se situa no partido do Presidente, pede o termo do debate rapidamente, por considerar que ele está a contribuir para fracturar dramaticamente a sociedade francesa.
Sarkozy, que é um impulsivo hiperactivo, ainda não está convencido que o debate lhe seja prejudicial e os ministros que mais apoiam a iniciativa desdobram-se em explicações destinadas demonstrar que não há nada pior do que não querer encarar a realidade tal como ela é. Acusam a esquerda de nada fazer para tirar os discriminados do gueto social em que se encontram.
Sarkozy ganhou as eleições e isso é meio caminho andado para ter razão. A história não julga os vencedores. Somente os vencidos. Acontece que a direita republicana em França, acantonada nas heranças do gaullismo desde há sessenta anos, nada tem a ver com a tradicional direita europeia, nem sequer com alguma esquerda de outros países europeus. É herdeira da Revolução e não é facilmente arregimentável para combates que contradigam o essencial do ideário republicano saído da Revolução.
Basta atentar no desprezo com que a direita ocidental olha para a direita francesa, a começar pela nossa, mas também a americana e outras, nomeadamente em questões de política externa (mas não só) para logo se compreender que um grande fosso as separa. E Sarkozy, com a sua política de “fazer para ver o que dá”, nem sempre atende á idiossincrasia da direita francesa. É caso para dizer que as suas ainda muito próximas raízes húngaras o não deixam compreender com inteira clareza o que “é ser francês de direita em França”…

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