AS PALAVRAS DE JAIME GAMA EM BELÉM
Dificilmente as palavras proferidas por Jaime Gama em Belém, nos cumprimentos de Natal e Ano Novo ao Presidente da República, podem deixar de ser interpretadas como uma severa crítica às crises artificiais. E mais do que isso: que é possível encontrar soluções no actual contexto parlamentar.
Podem dizer que Gama está a lançar as bases para uma candidatura presidencial e que, por essa razão, vai criticando à esquerda e à direita, para ir ao encontro de um certo sentimento popular que vê nas quezílias entre políticos questões sem qualquer conexão com o bem-estar da comunidade. Não creio que Gama esteja a ser movido por essa razão, embora pretenda prestigiar-se aos olhos dos portugueses numa altura a generalidade dos políticos está pelas ruas da amargura. Também não creio que Gama tenha condições para lançar uma candidatura vitoriosa à Presidência da República.
Objectivamente, as declarações de Jaime Gama não desmentem aqueles que acham que o PS de Sócrates está em conflito institucional com todos os poderes. Não apenas com o Presidente da República, mas também com o Parlamento e com o poder judicial sempre que se sente por este contrariado. No fundo, porque Sócrates não sabe governar em minoria. Porque Sócrates tem um conceito muito redutor de democracia.
Hoje a solução não passa por Sócrates. Aliás, Sócrates só está disponível para governar sem oposição, ou seja, sem que o voto da oposição seja determinante para a sua governação. É, portanto, muito natural, dado o perfil político do actual Primeiro-ministro, que a oposição no seu conjunto não acredite em qualquer entendimento com o PS, enquanto Sócrates continuar a dominar o partido.
O clima de crispação política existente no país tem, pois, o seu epicentro em Sócrates. E a convicção que começa a generalizar-se é a de que se o PS não tomar medidas radicais acabará por pagar caro esta hostilidade de José Sócrates a tudo que o contraria.
Será o PS capaz de fazer o que se impõe? Dificilmente. Não porque a “gente de Sócrates” seja numerosa, poucos são os que estão dispostos a “morrer” por Sócrates, mas porque os acomodados são muitos e maior parte deles sem qualquer espírito de independência tão acostumados estão a obedecer, sem reflectir, a quem por lá passa na chefia do partido.
É incontestável, Socrates mexeu em muitos interesses sacrossantos, e aqueles que queriam reformas, muitos deles queriam-nas, mas para os outros. Socrates, mesmo não tendo ido tão longe como o necessário, está a pagar pela sua ousadia. Não é preciso morrer por ele para se perceber o que se está a passar.
ResponderEliminarFaltou-me recordar, para quem se já esqueceu, que Jaime Gama é "peixe de águas profundas" e que quem não tem escafandro para chegar até ele, dificilmente o compreende.
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