O DISCURSO SOBRE O ESTADO DA UNIÃO E O ORÇAMENTO PORTUGUÊS PARA 2010
Ao ouvir no mesmo dia as intervenções e os comentários que acompanharam a apresentação do orçamento para 2010 e o discurso sobre o estado da União proferido por Obama no Congresso, todos ficamos a perceber as diferenças que separam as políticas dos dois países em matéria de emprego, de fiscalidade, de tratamento do capital financeiro e especulativo, bem como são encaradas nos dois países as consequências da política neoliberal por sectores ligados ao establishement.
As prestações sociais na América foram incrementadas e os impostos das classes trabalhadores diminuídos (95% das famílias trabalhadoras vão pagar menos impostos; em Portugal, vão receber menos salário e pagar mais impostos, directos e indirectos). O objectivo é evidente para qualquer leigo: se os trabalhadores mantiverem ou subirem os seus rendimentos aumentará necessariamente a procura e, por via dela, diminuirá o desemprego. Aqui não se procede de assim. Os nossos economistas acham que se derem subsídios às empresas ou as desonerarem e simultaneamente diminuírem as prestações sociais dos desempregados e dos reformados e, além disso, baixarem os salários, se recupera a economia.
Como os gurus destas políticas não são estúpidos, a explicação para a sua aplicação tem de ser encontrada noutras razões. E as razões são sempre as mesmas: o capital quer manter ou aumentar a taxa de lucro a curto prazo e sabe que, para o conseguir, em épocas de crise, o terá de fazer à custa de alguém.
Não é no fundo uma razão muito diferente da que leva alguns doutos economistas, com rendimentos simultaneamente provenientes de várias e milionárias pensões e de salários igualmente milionários recebidos regularmente, como acontece, só para citar alguns, com João Salgueiro, Mira Amaral, Campos e Cunha, Manuela Ferreira Leite, etc, etc, a defender o congelamento dos pequenos salários e das pensões baixas, e a manifestarem-se violentamente contra a mísera subida do salário mínimo (com a agravante obscena de algumas daquelas pensões terem sido por eles próprios decididas quanto ao montante e quanto tempo de trabalho necessário para as receber). Eles sabem que para receberem o que recebem, muitos e muitos outros terão que receber muito pouco ou quase nada!
Por outro lado, é também importante sublinhar a atitude relativamente aos bancos. É sabido como este governo os tem protegido e como quase os isentou de impostos durante a maior parte da anterior legislatura, bem como procedeu e procede relativamente às mais-valias bolsistas. É também sabido como actuou quando eclodiu a crise financeira (em Portugal de mãos dadas com as vigarices mais reles) e o que isso vai custar aos trabalhadores portugueses. Pois não obstante, o clima internacional que de Washington a Paris (ver discurso de Sarkozy, em Davos), passando pelo ataque ao capital financeiro e especulativo lançado em Porto Alegre, no Fórum Social Mundial, por Lula da Silva, são inúmeras as resistências que por cá se opõem a algo que toque ao de leve nos lucros dos bancos. Mais: ninguém do establishment se atreve a fazer-lhes a menor crítica. Pelo contrário, são eles que criticam o país com o apoio dos seus vários avençados (jornalistas, professores universitários, economistas) que logo fazem ressonância dessas críticas nos diversos meios de comunicação social.
Finalmente, o governo, os seus apoiantes e, principalmente, os defensores ostensivos ou encapotados do neoliberalismo não se cansam de condicionar a opinião pública, fazendo-lhe crer nas muitas vantagens do sistema e da “prosperidade” que ele trará. Cá não se ouvem palavras semelhantes a estas” Esta recessão aumentou ainda mais o fardo que as famílias americanas suportam desde há decénios: o encargo de trabalhar mais e mais tempo por menos dinheiro; de não poderem aforrar o suficiente para a reforma nem para enviar os seus filhos para a universidade”. Ou ainda: “Não podemos permitir uma nova “expansão” económica como a da última década em que o emprego cresceu mais lentamente do que em qualquer outro período de anteriores expansões, em que o rendimento das famílias caiu enquanto o custo da saúde e da educação alcançava níveis sem precedentes; em que a “prosperidade” se construiu sobre uma borbulha imobiliária e a especulação financeira”.
Quem cá disser coisas semelhantes na linguagem adaptada à nossa realidade é imediatamente ostracizado pelos fazedores de opinião, que logo consideram tais palavras populistas, próprias de partidos de protesto, ideias de gente irresponsável e por ai fora. Ainda um dia destes estava na TV alguém a perorar contra as tíbias medidas que o governo tomou relativamente aos bancos, chamando-lhes populistas, inúteis, demagógicas e ainda por cima injustas por se dirigirem a um sector de actividade altamente competitivo! Não liguei. Pensei que eram de um dos tais jornalistas ou comentadores avençados. Mas passado pouco tempo vim a saber que eram de um “professor universitário” de economia. É claro que com gente desta a educar as novas gerações nunca iremos a lado nenhum!
Ao ouvir no mesmo dia as intervenções e os comentários que acompanharam a apresentação do orçamento para 2010 e o discurso sobre o estado da União proferido por Obama no Congresso, todos ficamos a perceber as diferenças que separam as políticas dos dois países em matéria de emprego, de fiscalidade, de tratamento do capital financeiro e especulativo, bem como são encaradas nos dois países as consequências da política neoliberal por sectores ligados ao establishement.
As prestações sociais na América foram incrementadas e os impostos das classes trabalhadores diminuídos (95% das famílias trabalhadoras vão pagar menos impostos; em Portugal, vão receber menos salário e pagar mais impostos, directos e indirectos). O objectivo é evidente para qualquer leigo: se os trabalhadores mantiverem ou subirem os seus rendimentos aumentará necessariamente a procura e, por via dela, diminuirá o desemprego. Aqui não se procede de assim. Os nossos economistas acham que se derem subsídios às empresas ou as desonerarem e simultaneamente diminuírem as prestações sociais dos desempregados e dos reformados e, além disso, baixarem os salários, se recupera a economia.
Como os gurus destas políticas não são estúpidos, a explicação para a sua aplicação tem de ser encontrada noutras razões. E as razões são sempre as mesmas: o capital quer manter ou aumentar a taxa de lucro a curto prazo e sabe que, para o conseguir, em épocas de crise, o terá de fazer à custa de alguém.
Não é no fundo uma razão muito diferente da que leva alguns doutos economistas, com rendimentos simultaneamente provenientes de várias e milionárias pensões e de salários igualmente milionários recebidos regularmente, como acontece, só para citar alguns, com João Salgueiro, Mira Amaral, Campos e Cunha, Manuela Ferreira Leite, etc, etc, a defender o congelamento dos pequenos salários e das pensões baixas, e a manifestarem-se violentamente contra a mísera subida do salário mínimo (com a agravante obscena de algumas daquelas pensões terem sido por eles próprios decididas quanto ao montante e quanto tempo de trabalho necessário para as receber). Eles sabem que para receberem o que recebem, muitos e muitos outros terão que receber muito pouco ou quase nada!
Por outro lado, é também importante sublinhar a atitude relativamente aos bancos. É sabido como este governo os tem protegido e como quase os isentou de impostos durante a maior parte da anterior legislatura, bem como procedeu e procede relativamente às mais-valias bolsistas. É também sabido como actuou quando eclodiu a crise financeira (em Portugal de mãos dadas com as vigarices mais reles) e o que isso vai custar aos trabalhadores portugueses. Pois não obstante, o clima internacional que de Washington a Paris (ver discurso de Sarkozy, em Davos), passando pelo ataque ao capital financeiro e especulativo lançado em Porto Alegre, no Fórum Social Mundial, por Lula da Silva, são inúmeras as resistências que por cá se opõem a algo que toque ao de leve nos lucros dos bancos. Mais: ninguém do establishment se atreve a fazer-lhes a menor crítica. Pelo contrário, são eles que criticam o país com o apoio dos seus vários avençados (jornalistas, professores universitários, economistas) que logo fazem ressonância dessas críticas nos diversos meios de comunicação social.
Finalmente, o governo, os seus apoiantes e, principalmente, os defensores ostensivos ou encapotados do neoliberalismo não se cansam de condicionar a opinião pública, fazendo-lhe crer nas muitas vantagens do sistema e da “prosperidade” que ele trará. Cá não se ouvem palavras semelhantes a estas” Esta recessão aumentou ainda mais o fardo que as famílias americanas suportam desde há decénios: o encargo de trabalhar mais e mais tempo por menos dinheiro; de não poderem aforrar o suficiente para a reforma nem para enviar os seus filhos para a universidade”. Ou ainda: “Não podemos permitir uma nova “expansão” económica como a da última década em que o emprego cresceu mais lentamente do que em qualquer outro período de anteriores expansões, em que o rendimento das famílias caiu enquanto o custo da saúde e da educação alcançava níveis sem precedentes; em que a “prosperidade” se construiu sobre uma borbulha imobiliária e a especulação financeira”.
Quem cá disser coisas semelhantes na linguagem adaptada à nossa realidade é imediatamente ostracizado pelos fazedores de opinião, que logo consideram tais palavras populistas, próprias de partidos de protesto, ideias de gente irresponsável e por ai fora. Ainda um dia destes estava na TV alguém a perorar contra as tíbias medidas que o governo tomou relativamente aos bancos, chamando-lhes populistas, inúteis, demagógicas e ainda por cima injustas por se dirigirem a um sector de actividade altamente competitivo! Não liguei. Pensei que eram de um dos tais jornalistas ou comentadores avençados. Mas passado pouco tempo vim a saber que eram de um “professor universitário” de economia. É claro que com gente desta a educar as novas gerações nunca iremos a lado nenhum!
O nosso problema económico reside, essencialmente, no défice comercial, no pouco valor acrescentado dos nossos produtos.
ResponderEliminarA grande maioria do que consumimos no nosso país, quer em nº, quer em gastos financeiros, vem de fora. Isso não acontece nos EUA. Se ainda conseguíssemos pegar em areia, e transformá-la em diamantes, e se fossemos os únicos a saber fazer isso ...
Se tivermos mais dinheiro nos bolsos, iremos gastar no que temos nas prateleiras, escolhendo, preferencialmente, o mais barato, que normalmente vem de fora. Ainda por cima, temos a mania que o que vem de fora é de melhor qualidade (quando, muitas vezes, isso não é verdade). Nessa situação, o facto de darmos mais dinheiro à população em geral não será uma maneira desse dinheiro ir parar aos bolsos dos estrangeiros?
Se nós, consumidores, mesmo com o pouco dinheiro que temos, estivermos a comprar produtos feitos em Portugal, não estaremos a incentivar que se criem mais empregos em Portugal?
E, se tivermos mais empregos em Portugal, especialmente em industrias que transformem areia em diamantes, não teremos mais dinheiro no bolso?
Claro que concordo com as críticas feitas a esses economistas de pacotilha, que se limitam a empregar as receitas do FMI e do Banco Mundial, sem darem o exemplo, e sem verificarem se não há teoria económica alternativa. Para mim, um "empregado bancário", dois outros que não foi mais nada que um meros professores em estabelecimentos de ensino públicos (e que não sabem o que é chegar ao fim do mês sem receber o salário), e outro que não tem sensibilidade cultural (e que quis afogar umas gravuras na pedra), essas pessoas não tem sensibilidade para perceber que a economia não é só tecnocracia.
No entanto, a melhor maneira, quanto a mim, de segurar os empregos, é fazer com que os custos de produção baixem. Atentem que, nos sectores em que podemos ser competitivos, e aguentar melhor o nível de emprego, os nossos empresários queixam-se dos preços dos factores de produção, nomeadamente combustível, electricidade, IVA, custos com cobranças de dívidas, etc ... Isso não significa, necessariamente, que os empregados recebam menos dinheiro (nem que tenham de passar mais tempo nos empregos), mas que os produtos feitos pelos empregados sejam cada vez mais valorizados pelos consumidores.
Querem um exemplo numa área em que já fomos fortes: No textil. Dantes, eramos fortes, pois os asiáticos não podiam entrar na UE com os seus produtos texteis feitos ao preço da uva mijona. Quando estes puderam entrar, foi o fim de muito tecido industrial nacional.
Porque não começar a produzir texteis com tecido impermeável? Ou com tecido que não se enruga? E porque não produzir esses mesmos tecidos? Será que, ao fazermos isso a preços baratos, não teriamos a preferência dos clientes internacionais?
Aqui mete-se o problema do empresário médio português. Não podemos produzir estes produtos (que envolvem tecnologia avançada, e I&D) enquanto tivermos o empresário médio que temos, individualista, dono de micro, dependente dos subsídios estatais, que só se impõe pelo exemplo, que pensa na empresa como uma extensão dele mesmo (e nunca como uma pessoa independente), e que só actua em função do banco ou das finanças.