PEDRO LOMBA NO PÚBLICO DE HOJE
No Público de hoje Pedro Lomba escreve uma crónica sobre os eventos da Calábria que opuseram os emigrantes estrangeiros a milícias calabresas em várias batalhas campais de proporções pouco habituais em países europeus.
Claro que o sul de Itália passa por uma grave crise. Mas essa situação é crónica, pelo menos, desde a II Guerra Mundial. Lá como cá, há trabalhos que os nacionais não querem fazer. Por outro lado, a emigração é hoje cada vez menos uma saída para as populações do sul da Itália e da Sicília.
Curiosamente, é nestes territórios que, também desde a II Guerra Mundial, a direita italiana se abastece de votos sem que por lá haja grande penetração dos partidos de esquerda, mesmo do próprio PCI, nos seus tempos mais gloriosos. Paradoxalmente, estes italianos do sul são claramente discriminados pelo Norte, que desde a reunificação considera que recai sobre si o encargo de pagar a “preguiça” do mezzogiorno.
Esta estranha aliança da direita do Norte com a direita do Sul tem como grande intermediário a Máfia (seja ela a Camorra da Campânia, a Ndrangheta da Calábria ou Cosa Nostra da Sicília). Foi assim durante a Democracia Cristã, é assim com Berlusconi, com a diferença de que agora as ligações são praticamente às claras e processam-se com o maior descaramento e impunidade.
Berlusconi tem protagonizado uma política racista e xenófoba (como alguém dizia, a Itália de Berlusconi, se ninguém fizer nada, será o futuro espelho da Europa), que apesar das manifestações de hostilidade e de censura de que tem sido alvo por parte das forças progressistas italianas e até do próprio Vaticano, tem gozado da silenciosa cumplicidade da União Europeia, tanto das instituições de Bruxelas, como dos respectivos Estados Membros, com raras e honrosas excepções, entre as quais figura a Espanha de Zapatero.
É opinião corrente que por trás dos conflitos com os emigrantes está a Máfia Calabresa. E por trás da Máfia Calabresa está o caldo de cultura que Berlusconi e a racista Liga do Norte tem vindo a disseminar na sociedade italiana.
Pois, o que diz Pedro Lomba? Omitindo tudo isto, começa por defender, apoiando-se numas ingénuas declarações de Prodi (insuspeito, claro!), a peregrina tese de que a Itália não estava habituada a viver com estrangeiros! Cada italiano habita mentalmente um espaço restrito e por aí se confina!
Se há povo na Europa que pela sua história milenária sempre manteve contactos com estrangeiros, e mais tarde, fez da emigração uma constante da sua vida em comunidade, esse povo é o italiano. De qualquer modo, mesmo que estes factores fossem irrelevantes, por a emigração que os italianos hoje recebem os obrigarem a tipo de contacto com estrangeiros diferente daquele que resultava das suas anteriores experiências, a situação italiana não tem nada de original quando comparada com o que se passa noutros países europeus de grande concentração emigrante, como o Reino Unido, a Alemanha, a França, a Espanha, a Holanda, entre outros, onde, não obstante a existência de alguns conflitos, não existe uma doutrinação oficial racista e xenófoba, destinada a difundir na comunidade um sentimento anti-emigrante semelhante ao que existe na Itália.
Finalmente, Lomba depois desta incursão sócio-antropológica, refugia-se na etimologia latina para justificar aquela hostilidade, esquecendo-se que essa mesma etimologia o afastaria igualmente dos hospitais, que apesar de serem um lugar que ninguém deseja frequentar, constituem muitas vezes a única esperança da continuação da vida.
Por todas estas razões, a crónica de Pedro Lomba no Público de hoje pode, a justo título, considerar-se uma manifestação subliminar de racismo!
Tenho a ideia de que os italianos de facto emigrantes para muito sítio mas particularmente para as Américas não tinham até há pouco emigrantes no seu território. como aliás nós portugueses. Ou os galegos.
ResponderEliminarao contrário os franceses muito pouco de procurar mundo aceitaram sempre grandes quantidades de emigrantes.
O sul de Itália não é o grande viveiro da direita que é bem mais forte no Norte onde sempre pteve forte influência e onde tem as bases do camarada Bossi, o da Padania. O Sul sob a influencia da exploração do Norte primeiro e das mafias, ndranghetas e similares depois deu mais os votos à DC (que mesmo sendo de Direita não estava tão à direita quanto a direita nortista) mas isso fez-se depois da destruição da esquerda siciliana (haja quem se recorde do filme Salvatore giuliano, por exemplo)coisa tornada possível pelo regresso -e pela protecção dos aliados- dos mafiosos estado-unidenses. Hºa i+um escritor siciliano que dá uma excelente imagem desse processo: Andrea Camileri mas genericamente todos os escritores do sul denunciaram o facto.
Eu tendo a pensar que o Lomba não conseguiu explicitar bem o que queria dizer mais do que tomar partido por quaisquer racismos italianos. Também não se deve esquecer que neste aspecto a Itália é o "ventre mou" da europa e que até há pouco tinha uma legislação que mais que permissiva quanto ao estatuto dos clandestinos. foi por isso que foi escolhida com o porta de entrada de emigrantes, aliás. isto dito não justifica a berlusconada que aliás só existe por que socialmente é aceite. Infelizmente a esquerda italiana está exangue e o que ainda me admira é a direita não ter ido mais longe. E só não foi por que as gentes do fini entraram em comnflito com Berlusconi e bossi. quase que me apetece bater palmas ao ~exito da Direita. em pouco tempo começa a fraccionar-se...
Não sou anónimo,porra! só não consigo meter nome nos quadradinhos...
ResponderEliminarMarcelo Ribeiro
Marcelo, há quanto tempo não aparecias!
ResponderEliminarSim, é verdade o que dizes. Só não estou tão certo quanto à incapacidade de o Lomba exprimir correctamente o que queria dizer...
Então não me lembro do "Bandido da Sicília" e do massacre de Portella della Ginestra? Claro, que me lembro...
Abraço
CP