E ESTUDA AINDA MENOS
Muitas vezes criticámos os jornalistas, porque eles estão mal preparados, não aprofundam devidamente os assuntos, têm opções jornalísticas de gosto e interesse duvidosos, e ligámos, talvez preconceituosamente, essas sucessivas deficiências ao facto de muitos deles não terem educação universitária.
A verdade é que, hoje, muitos dos que aparecem nas televisões ou têm cursos universitários da especialidade ou têm cursos de outras áreas que, em princípio, até lhes poderiam trazer certas vantagens na abordagem de certas matérias.
Todavia, essas vantagens ou essa específica formação não se traduzem em muitos deles em nenhuma melhoria significativa na abordagem dos temas mais complexos. Ainda hoje isso se viu na entrevista que S. Tavares fez ao Primeiro Ministro, José Sócrates.
Não perfilho a tese de que Tavares estivesse interessado em fazer o “frete” a Sócrates, como alguns já disseram, sob o pretexto de que se tratava de uma conversa entre “camaradas socialistas”.
Tavares cultiva o discurso da arrogância, está habituado a falar só na televisão e, como diz o Jardim, a substituir os argumentos por uns “esgares de boca torta” feitos com muita convicção e nenhum conteúdo. Gostaria, por isso, de ter brilhado e, para utilizar a linguagem marialva do entrevistador, de “ter encostado Sócrates às tábuas”. Não o conseguiu em nenhum dos domínios abordados.
Ficou-se pela superfície na questão da Madeira, tentando entrar na intriga, quando havia assuntos muito mais sérios que a tragédia infelizmente levanta e que contendem com outras questões bem mais graves que interessam a toda a comunidade nacional e não apenas àquele círculo restrito que se ocupa da intriga política.
Depois, também não teve qualquer êxito naquele que aparentemente poderia ter sido o tema mais simples da entrevista, tanto pela situação em que Sócrates se encontra, como pelo facto de o entrevistador até ser licenciado em direito e, teoricamente, ter alguma vantagem na abordagem de alguns temas. Não o fez. A meu ver por incompetência. E até permitiu a Sócrates justificar a presença de um jovem “super boy” do PS na estrutura directiva máxima de uma das maiores empresas portuguesas. Obviamente, que quem parte do princípio de que a publicação das escutas pelos jornais e outros meios de comunicação social é ilícita dificilmente se poderá sair bem numa conversa que as tenha como tema. Então, mais valeria ter abordado a questão por outro lado. Pelo lado do que licitamente deveríamos conhecer e não conhecemos.
Enfim, na economia a conversa não abordou nenhum dos grandes temas que neste momento estão na ordem do dia de quem pensa criticamente sobre a situação económica, não apenas de Portugal, mas dos países capitalistas avançados. Ficar pelo TGV, sem dar consistência ao argumento, e fazer a defesa das teses neoliberais da diminuição dos impostos como remédio para sair da crise são contributos bem pobres para um tema de tão grande importância. E, claro, Sócrates debitou a vulgata neo-keynesiana, seguro de que não tinha interlocutor à altura de o contraditar. De o contraditar com perguntas inteligentes…e não com interjeições cheias de “auto-suficiência argumentativa”.
“Sinais de fogo” nem de perto nem de longe estará à altura da capacidade polémica e crítica do A. que deu o nome ao programa.
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