FRAQUEZA AMERICANA OU CONIVÊNCIA AMERICANA?
É muito difícil compreender à distância a complicadíssima política do Médio Oriente. Pela segunda vez desde a Guerra dos Seis Dias há um conflito ostensivo entre a América e o seu aliado israelita.
A primeira foi com Ford. A propósito das negociações com o Egipto (retirada da península do Sinai) e a segunda é esta: a afronta de anunciar o alargamento dos colonatos no próprio dia da chegada a Telavive de Joe Biden.
Será que a extrema-direita judaica perdeu o juízo? É pouco provável, como pouco provável é que a decisão de estender os colonatos na Cisjordânia e de “ocupar” Jerusalém Oriental seja apenas obra das seitas ortodoxas fanáticas. O envolvimento é seguramente mais vasto.
Israel está hoje convencido que Obama não impedirá o Irão de fabricar a bomba atómica. Mais: até é capaz de admitir que Obama, com outra direcção política no Irão, estaria interessado num reajuste de forças que pudesse contribuir para retirar a América de alvo privilegiado dos radicais islâmicos.
Israel analisa qualquer destas alternativas como uma ameaça à sua sobrevivência. Gozando há muito de uma hegemonia indisputada, Israel não é capaz de encarar na região qualquer tipo de relacionamento mais equilibrado senão como uma ameaça mortal.
Por isso, Israel quer que a América bombardeie as instalações nucleares do Irão ou, em último recurso, que a América lhe dê carta-branca para o fazer.
Obama não quer fazer uma coisa nem outra, mas há na América, e até talvez na Europa, quem queira. Bush, muito fragilizado no final do mandato, com duas frentes de guerra abertas e com uma frente difusa à escala planetária, não arriscou fazê-lo. Mas o plano existia.
É impensável que Israel actue como está actuando apenas com base nas próprias forças. Tem aliados fortíssimos na América com os quais interage para manter e alargar o status quo no Médio Oriente e simultaneamente desgastar o poder de Obama e preparar a sua substituição no fim do mandato.
Serve os interesses da extrema-direita americana a generalizada convicção de que o actual poder americano é um poder fraco, convicção de que Petraeus se fez eco na análise (crítica) que dirigiu ao Pentágono sobre a iniciativa israelita, o mesmo é dizer sobre a incapacidade da administração Obama evitar a iniciativa israelita.
Enfim, Obama começa a estar cercado por muitos lados (passe a tautologia) …
Meu caro (permita-me), admiro-o pelo profundo background cultural, que confere às análises que aqui desenvolve o valor do pensamento próprio, fundado, reflectido, documentado. Coisa rara entre nós, que nos entretemos decorar o copianço com originalidades que logo mostram assinatura.
ResponderEliminarNesta questão de Israel, entretanto, deixou-me perplexo. Bem sei que o alvo da sua análise era a política interna americana, especialmente a experiência de frustração vivido por Obama, dramaticamente barrado pelos seus lobbies do seu partido, todavia exibindo um poder que força interrogações sobre a própria natureza e limites do regime democrático, em que avulta a questão de saber como proteger o voto como única fonte de legitimação de um poder que se reclame de representativo.
O meu ponto, todavia, é este: no seu comentário perpassa, gelada, a ideia da irrelevância da Europa nesta questão de psiquiatria política centrada na irrecuperável esquizofrenia israelita. Varrendo incessantemente para baixo do tapete a doença de Israel nascida da genocídio nazi, fazendo de conta de que encostado a este espaço de paz e tolerância vive um vizinho intratável, que não dorme, vai matar pessoas a casa dos outros, vive em cima de um arsenal também nuclear e que de um dia para o outro pode incendiar a nossa casa.
A impotência europeia é outro dos lados deste vigesimoseptimoedro impossível de representar no nosso espaço de 3D. Falta a dimensão do tempo. Pelo menos.
Respondendo a JOS:
ResponderEliminarO papel da Europa no Médio Oriente terminou simbolicamente com a Crise do Suez e dramaticamente com as desventuras dos franceses no Líbano.
Cinicamente pode dizer-se que actualmente o papel da Europa no conflito israelo-palestiniano se traduz, relativamente a Israel, na expiação dos crimes nazis, tanto pela sua autoria, como pela sua conivência, e, em relação à Palestina, no pagamento de uma ajuda que vá permitindo aos palestinianos viver segundo a “pax judaica”.
A maior ou menor animosidade relativamente ao Irão depende em grande medida do andamento dos negócios. Mas não só. De facto, como o Irão está perto, a Europa teme que o país se transforme numa potência nuclear, não porque receie que o Irão ataque Israel, mas por temer que Israel ataque o Irão e este responda.