terça-feira, 9 de março de 2010

SÓCRATES, AS VERDADES E AS MENTIRAS



AS VERDADES SÃO MAIS GRAVES DO QUE AS MENTIRAS

O país político pode andar muito entretido com as mentiras de Sócrates, parte do qual certamente por perfídia, outra parte por estultícia, mas o que não resta dúvida é de que as suas verdades são muito graves do que as mentiras.
Dizem fontes oficiosas que o Governo estuda privatizar a TAP, CTT, EDP, GALP, REN E seguradoras da CGD. E, muito a sério, Sócrates diz que é preciso credibilizar a economia portuguesa.
Estas verdades de Sócrates são muito mais graves do que as suas mentiras. O Governou prepara-se para espoliar os portugueses do pouco que lhes resta a troco de uma pequena e momentânea vantagem, entregando ao capital privado grandes fontes de rendimento da economia nacional.
O governo, principalmente Sócrates e o Ministro das Finanças, fala do défice como se se tratasse de algo da responsabilidade de quem o suporta. O ar sério, castigador e carrancudo com que se dirigem aos portugueses constitui uma das maiores mistificações psicológicas a que alguma vez assistimos. O algoz transforma-se em vítima inocente e aponta como culpados da situação por ele criada as vítimas inocentes da sua política, fazendo-as identificar com uma culpa que não têm, em homenagem ao “sagrado princípio” do interesse nacional.
O que é grave não é Sócrates ter dito no Parlamento há pouco mais de um ano que esta crise demonstra quanto estavam enganados aqueles que queriam acabar com a participação do Estado na economia. Grave é Sócrates utilizar o papel do Estado para transferir para as suas clientelas políticas grandes negócios pagos com dinheiros públicos.
Sócrates é muito mais perigoso quando fala verdade do que quando mente!

2 comentários:

  1. Há país mais exemplar do capitalismo do que a Suíça? No entanto, quando lá vivi, vai para mais de trinta anos, sempre me disseram que a identidade suíça, no pouco em que se sobrepõe ao que verdadeiramente conta, o cantão, eram os três grandes símbolos nacionais, matéria exclusiva de governo federal, inimagináveis de privatização: o exército, os caminhos de ferro e os correios (que, na Suíça, também são muito importantes como banco "popular" e como transportadora para as regiões alpinas).
    O nosso governo prepara-se para privatizar os CTT. Para onde estamos a ir? Os meus amigos do PS conseguem explicar-me o que significa "socialista"?
    Há algum tempo, li o "The Third Way", de A. Giddens, o guru do Blair. Mesmo assim, ele está a léguas à esquerda dos nossos PS típicos (dirigentes mas também, infelizmente, a maioria dos militantes).

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  2. «(...) O ar sério, castigador e carrancudo com que se dirigem aos portugueses constitui uma das maiores mistificações psicológicas a que alguma vez assistimos. O algoz transforma-se em vítima inocente e aponta como culpados da situação por ele criada as vítimas inocentes da sua política, fazendo-as identificar com uma culpa que não têm, em homenagem ao “sagrado princípio” do interesse nacional. (...)»

    Muito bem. Creio que condensou aqui um dos problemas deste país - ou que vive sempre em "excesso de autoridade" ou, pelo menos, que a visualiza lá onde a mesma não deveria estar. Se não for alterada a perspectivação dos problemas nacionais como sendo "assunto nosso, meu, seu, de cada um" e se não cessar, pois, o "medo de existir" (J.Gil) nunca, enquanto soberano real mas quase sempre ausente, tomaremos por fim o protagonismo que nos é devido.

    E estaremos sempre condenados a falar num "eles" malvado e "mandão".
    Pudera, pois se "nós" temos sempre deixado que assim seja...!

    A "cobrança" democrática em Portugal tem de deixar de ser tão branda e deslocada.

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