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Já parece obsessão, mas creio que não é. Ouve-se tanta incorrecção acerca do que se está a passar com a crise grega que não há como ficar calado. Falam em solidariedade europeia, em saída da crise,enfim, falam de fantasias e não de realidades.
Façamos o ponto da situação. O que realmente ficou acordado no último fim-de-semana, depois daquele acordo muito vago de 25 de Março, foi o seguinte: Os países da zona euro oferecerão, este ano, à Grécia empréstimos bilaterais no montante de 30 mil milhões de euros, complementados por um empréstimo do FMI, em montante a definir, entre 10 e 15 mil milhões.
Não se sabe com rigor de quanto a Grécia vai precisar este ano: uns falam em 32 mil milhões, outros em 45 mil milhões, e outros ainda em 52 mil milhões. Depois se verá…
Este mecanismo, em que todos os Estados da zona euro intervêm com base numa chave de repartição que tem por critério a sua participação no capital do Banco Central Europeu (BCE), será desencadeado a pedido da Grécia. Mas não actua automaticamente: o pedido tem de ser avaliado pela Comissão e pelo BCE, e somente será actuado depois de aprovado por unanimidade numa nova reunião do Eurogrupo.
Por outro lado, como tem sido sublinhado, trata-se de um empréstimo a três anos concedido a uma taxa à volta dos 5%, mais as despesas de execução, ou seja, a um juro inferior ao que por força da especulação a Grécia estava pagando no fim-de-semana passado (7,5%), mas quase ao dobro da taxa do empréstimo a conceder pelo FMI (2,84%).
Esta é a situação de facto, depois da decisão de domingo. Verdadeiramente, os Estados da zona euro não pretendem emprestar dinheiro à Grécia, e, muito menos a juro “solidário”, mas evitar a espiral especulativa de que a Grécia estava a ser vítima. Os Estados da zona euro esperam que o juro baixe no mercado e que Grécia continue a poder financiar-se nele. Se não conseguir, ou dito de outro modo, se o juro do mercado continuar a ser superior ao prometido pela zona euro, muito provavelmente a Grécia desencadeará o pedido de empréstimos bilaterais.
O que todavia não deixa margem a dúvida, qualquer que seja a decisão final dos Estados da zona euro, é que a Grécia, para se manter no euro, vai ter de praticar uma política deflacionista e de recessão. Como não pode aumentar a competitividade da sua economia pela via da desvalorização da moeda, só lhe resta baixar os salários e os preços, e ver aumentar o desemprego.
E o mais provável é que a Grécia, como vai deixar de crescer, veja aumentar a sua dívida por referência ao PIB. Ou seja, o mais provável é que a Grécia se veja forçada a fazer exactamente o contrário do que fizeram os Estados Unidos a seguir à guerra: uma política inflacionista e de forte crescimento, cujos factores conjugados transformaram uma dívida de 122% do PIB numa dívida de 33% do PIB, não obstante nominalmente ela se ter mantido idêntica ou até ligeiramente superior.
E aqui voltámos à mesma questão de sempre: a Alemanha “traumatizada” pela hiperinflação de Weimar foge da inflação como o “diabo da cruz”, enquanto os Estados Unidos, melhor dizendo: os sectores mais progressistas dos EUA, “traumatizados” pela deflação da Grande Depressão não acreditam em soluções baseadas numa política monetária deflacionista. Politicamente estas duas formas de encarar a realidade económica fazem toda a diferença, pois é sempre bom não esquecer que na década de trinta a Alemanha saiu da crise pelo nazismo, enquanto os Estados Unidos saíram pelo “New Deal”, que impôs uma repartição dos rendimentos como até então nunca tinha havido na sociedade americana (aquilo a que alguns chamam a “Grande Compressão”).
Em conclusão: o acordo do passado fim-de-semana impede, a curto prazo, a falência da Grécia, como seguramente aconteceria se a espiral especulativa continuasse no mesmo ritmo. Mas não resolve os problemas da Grécia que, tal como os de outros países da zona euro, estão cada vez mais num beco sem saída…dentro do euro ou fora dele.
E verdade que à economia de um país, ainda que pequena como a Grécia, não se aplicam as regras de uma família nem mesmo de uma empresa, mas que solução há a longo prazo para uma economia fortemente deficitária tendo em conta que desse deficite carece da aquiscência dos credores? É um bocado como a relação entre o banco e o particular, é desigual e injusta, mas como se pode alterar. Eu evito-os e peço o menos que posso.
ResponderEliminarParabéns pela análise.
ResponderEliminarPercebeu bem o busilis da questão.
Está a revelar mais talentos de economista que alguns economistas afamados da nossa praça.