quarta-feira, 28 de abril de 2010

A CRISE FINANCEIRA PORTUGUESA NO CONTEXTO DA ZONA EURO


A DERROTA DE UMA ERRADA POLÍTICA ECONÓMICA ALICERÇADA NUMA DIPLOMACIA ECONÓMICA SUBSERVIENTE
A onze fusos horários de distância (já se antevia que a situação tendia a agravar-se...) não resta muito tempo para divagações inúteis. O que é pouco importante deixa de se ver e desaparece, enquanto o que é importante ganha uma dimensão que se impõe por si.
A crise financeira dos países periféricos da zona euro adivinhava-se antes mesmo de na Grécia terem surgido os primeiros sinais. Se há vários países que não crescem ou crescem muito pouco durante mais de uma década e se simultaneamente se endividam a um ritmo cada vez mais intenso de tal forma que a dívida contraída por referência ao produto interno bruto não cessa de aumentar, sendo cada vez maior em cada ano a parcela do rendimento nacional afectada ao seu pagamento (capital e juros), é porque alguma coisa está estruturalmente errado no modelo em que tais países actuam.
E se à analise da situação dos países periféricos se juntar a análise da situação financeira de cerca de uma dezena de países pertencentes à mesma zona, então a conclusão ainda se torna mais evidente.
Como a maior parte dos nossos economistas mantém com a ciência uma relação semelhante à que a astrologia tem com a astronomia (esta ideia é repetida, mas é necessário insistir nela para se perceber o que se passou), é natural que não tenha compreendido o que se estava a passar e tenha, portanto, com a sua ignorância contribuído para agravar uma situação que em si já era muito grave.
Influenciados pelas concepções ideológicas que perfilham, os economistas do sistema não foram capazes de compreender a realidade e actuaram (e continuam a actuar) permanentemente em função de um "previsível"quadro económico realmente inalcançável, salvo na sua imaginação. O que se diz dos economistas, vale para o Governo já que é em função de análises económicas perfilhadas pelos economistas do sistema, integrados no seu seio, que ele actua. Por isso, do Governo, se poderá dizer que, mais do que as políticas ineficazes, o que contribuiu para a presente situação foi a incompreensão da própria realidade.
Não se trata de supor que todos tem de adoptar as mesmas opções de política económica para se chegar a uma “solução economicamente correcta”. Seria estúpido pressupor tal coisa. A sociedade em que vivemos é uma sociedade plural principalmente no sentido de que está atravessada por interesses diametralmente antagónicos e conflituantes, logo é natural que as opções políticas protagonizadas pelos representantes desses interesses sejam diferentes, muito diferentes. O que não é natural é que essa fundamental divergência ideológica influencie tão drasticamente o conhecimento da realidade.
Se a economia é uma ciência – e é no sentido de que deve operar até aos limites do possível de acordo com o método científico – a análise da situação economica referida a um longo período – um período já decorrido, passado, portanto, ininfluenciável pelas opções políticas presentes – não pode diferir muito de economista para economista, na medida em que se trata da análise de uma situação de facto pretérita. De mais difícil convergência, obviamente já influenciável pelas respectivas posições ideológicas, salvo se houver dados empíricos indiscutíveis susceptíveis de análise e avaliação analógica, é a enumeração das causas que estão na base de tal situação. Mas também neste domínio o esforço que tem de ser feito por quem queira realmente actuar sobre a situação sob análise é um esforço de objectividade que tenda a ver as relações de causa efeito da mesma maneira como as “vê” uma ciência da natureza.
Chegados a este ponto, e supondo correctamente analisada a situação de facto, é que entram em acção as opções ideológicas de quem governa, agora transformadas em verdadeiras opções políticas. Dito de outro modo: é perfeitamente natural que uma análise rigorosa (logo, convergente) no sentido acima exposto de uma determinada situação de facto leve a “soluções” políticas muito diferentes, melhor dizendo: a propostas de “solução política” muito diferentes, ditadas pelas opções ideológicas de quem governa e pelos resultados que se pretendem obter.
Nada poderia ilustrar melhor a negação daqueles princípios do aquilo que se passou com a análise da situação económica portuguesa depois da adesão ao euro.
O Governo e os economistas do sistema tendo começado por aderir acriticamente aos “critérios de Maastricht” foram, a partir dai, absolutamente incapazes de analisar a situação económica fora do enquadramento ideológico, deturpador da própria realidade, em que tais criterios estavam inseridos. Foram, por isso, incapazes de comprender que aquilo que eles tomavam como uma realidade económica empírica não passava, para quem os impôs, de uma clara opção de política económica. Dai que continuassem a lutar, qual D. Quixote, por um resultado que tinham por tanto mais certo quanto mais longe estavam de o conseguir. E é a partir daqui que tudo se complica cada vez mais irremediavelmente a cada dia que passa.
(Os fusos impõem a sua lei, logo, este post só amanhã poderá ser concluido...)

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