COMEÇA A ESTAR À VISTA O QUE SE PRETENDE
A cada dia que passa os juros vão subindo para a Grécia. A intervenção do FMI, para já apenas técnica, agravou ainda mais a situação. A notícia - verdadeira ou falsa, pouco importa - de que o FMI iria impor condições ainda mais duras do que as da Comissão Europeia fez disparar os juros.
Como ninguém de bom senso poderá aceitar que o que se está a passar com a Grécia tenha por objectivo estabilizar as contas públicas e relançar o crescimento, terá de interpretar-se de outro modo a imposição alemã que faz depender a possibilidade de uma ajuda bilateral dos EM da fixação de taxas de juro em linha com as do mercado.
Se o recurso ao mercado não tem feito senão subir o juro e o simples recurso técnico ao FMI teve de imediato o mesmo resultado, parece evidente que a estratégia alemã tem em vista criar condições tão difíceis de comportar que levem a Grécia a abandonar o euro. Já que não pode ser expulsa, criam-se as condições para que saia pelo seu pé.
De facto, ninguém de boa-fé poderá defender o recurso a empréstimos concedidos nas condições do mercado, sabendo-se, como é o caso, que tais empréstimos, embora possam evitar momentaneamente uma cessação de pagamentos, não resolvem, antes agravam, a situação de fundo. Como também ninguém de boa-fé poderá defender que a Grécia deva ser seriamente penalizada pelo seu comportamento passado, sabendo-se que a dureza das sanções não têm qualquer efeito regenerador e apenas serve para tornar a crise grega a cada dia que passa ainda mais insolúvel.
Quem actuou relativamente aos bancos da forma que se conhece, ajudando-os gratuitamente a recuperarem de uma situação que eles próprios criaram, e actua em relação à Grécia com a dureza impostas pelo “diktat” alemão só pode ter em vista, quanto aos dois casos, efeitos diametralmente opostos. Enquanto em relação aos bancos se pretendia reintegrá-los no sistema deixando intocado todo o seu poderio, relativamente à Grécia pretende-se expulsá-la do sistema mediante a criação de condições sucessivamente mais incomportáveis dentro do sistema em que ela própria se insere.
Este pode não ser o objectivo das instituições comunitárias ou até da maioria dos EM, mas dificilmente poderá deixar de ser o da Alemanha e o de quem acriticamente aceita as suas imposições.
Se esta estratégia não for rapidamente revertida por acção dos que a ela se opõem, ela acabará por fazer o seu caminho e impor-se no curto prazo, apesar dos graves riscos que própria encerra para quem a pôs em prática.
Uma boa estratégia para a Grécia teria como primeira medida a eliminação progressiva da diferença de 10 anos na idade da reforma face ao praticado na Alemanha. Uma estratégia de contenção destes e outros desvios de boas práticas eliminaria o prémio de risco da dívida grega.
ResponderEliminarMas já lí insinuações piores que a deste post, por exemplo que a Alemanha devia gastar mais e exportar menos.
E depois, saíamos todos do Euro?
Sobre o comentário de fpduarte
ResponderEliminarO problema é que o capitalismo, além do seu extraordinário poder económico, e do seu domínio sobre o poder político, tem a capacidade de pôr os pobres a pensar segundo o paradigma dos ricos.
E quando assim acontece, quando o domínio ideológico é total, nada os demove das suas "convicções".
Z
Sobre comentário anónimo
ResponderEliminarAcho que deviamos acabar com os pobres como terá dito Olaf Palm.
Proponho esse paradigma.