segunda-feira, 5 de abril de 2010

SUBMARINOS E FREEPORT

O GRANDE RECEIO

As notícias que nos chegam sobre a compra de submarinos para a Armada portuguesa não são nada animadoras. À desnecessidade de tais vasos de guerra para um país como Portugal, junta-se a suspeita de graves irregularidades na sua aquisição. E as irregularidades são tantas e, ao que parece, abrangem tanta gente que, às suspeitas que já existem, junta-se uma outra muito mais grave: a suspeita de que o mais importante no negócio dos submarinos era mesmo comprá-los. Para que servem ou que vantagens lícitas poderiam estar associadas à sua compra parecem ser assuntos de somenos.
Depois do Freeport, que continua por deslindar, apesar das sucessivas datas já indicadas para terminar a investigação pela “inimitável Cândida Almeida”, junta-se agora a questão dos submarinos, assunto que ninguém do PS, CDS ou PSD parece estar interessado em trazer à tona.
Enfim, adensam-se as suspeitas sobre quem governa e as medidas de combate à corrupção, regularmente anunciadas por quem já foi ou é governo, assemelham-se cada vez mais a medidas destinadas a criar a ilusão de que algo vai mudar para que tudo possa continuar na mesma.
De facto, há também nesta matéria uma grande falta de credibilidade da parte da classe política dominante.
Vemos pessoas que já foram ministros por longos períodos de tempo – e até em contextos políticos muito diferentes - apresentar “pacotes” contra a corrupção, agora que estão cá fora, mas que quando estavam lá dentro nunca fizeram nada para a combater. Pelo contrário, até há quem as acuse de terem penalizado o “denunciante”em vez de terem perseguido os suspeitos. Falámos propositadamente em contextos políticos diferentes, porque a vivência de situações muito diversas ter-lhes ia permitido actuar com muita mais prontidão quando as condições se alteraram e a corrupção passou a ser uma prática corrente.
Vemos pessoas muito preocupadas com algumas irregularidades na atribuição do “rendimento social de inserção”, mas que fazem obstrução ao esclarecimento do que se passou com os submarinos. Isto para não falar da opacidade sobre a “regularidade” de atribuição de outros subsídios, nomeadamente a empresas.
Vemos compadrio, nepotismo, boys e super boys por todo o lado e ninguém faz nada. Ou quando alguém quer fazer, não deixam.
A corrupção como prática corrente da actividade administratativa do Estado está intimamente relacionada com o assalto de que a administração pública foi vítima pelos partidos do poder (PS, PSD E CDS). Desaparecida que foi a independência técnica da administração e transformada esta numa simples extensão partidária de quem governa estavam abertas as portas para todo o tipo de arbitrariedades. O dirigente, sendo da confiança política de quem governa, deixou de ter independência para defender o Estado contra os desvarios de quem governa e até o simples funcionário, que passou a ter a progressão na carreira intimamente relacionada com estar ou não estar nas boas graças de quem o dirige, foi perdendo a sua independência técnica para se transformar em mais um yes man do poder instituído.
Por outro lado, a administração indirecta do Estado, com excepção das universidades e de um ou outro institututo de natureza científica, transformou-se numa farsa do que deveria ser a sua verdadeira natureza, funcionando nela o poder de obediência hierárquica relativamente ao governo ainda com mais intensidade do que na administração directa.
É por todas estas razões que cada vez mais nos recordámos das palavras proferidas por João Semedo quando, aqui há uns meses, disse no Parlamento que actualmente a melhor maneira de assaltar um banco é administrá-lo. Fazendo a analogia entre as duas situações, nós começamos a recear que a melhor maneira de assaltar o Estado seja governá-lo!

2 comentários:

Jorge Almeida disse...

Tirou as palavras "do meu teclado".

fpduarte disse...

Será que o maior entrave ao nosso desenvolvimento é a corrupção política? E é um problema de regime, talvez até encastrado na própria Constituição?
Deixo as perguntas.