terça-feira, 18 de maio de 2010

A CRISE DO EURO




A CAMINHO DA RECESSÃO E DO DESEMPREGO

Hoje sabe-se com todos os pormenores como decorreram as reuniões que culminaram com a criação do tal Mecanismo de Estabilidade Financeira, acordado há uma semana, pelOs Ministros das Finanças da zona euro, depois de o assunto ter sido amplamente discutido entre os Chefes de Estado e de Governo.
Tendo-se tornado evidente que a situação da Grécia foi propositadamente degradada pela ausência de medidas eficazes que a poderiam ter atenuado se a tempo e horas a União Europeia tivesse agido e que ela ameaçava alargar-se a outros países, nomeadamente à Espanha, a União Europeia resolveu mudar de rumo, dentro da mesma rota, por ter compreendido in extremis que estava a caminhar para o abismo. Abismo a que os Estados Unidos não escapariam como imediatamente se percebeu quando a bolsa de New York registou uma queda brutal, indiciária de que alguém se estava a ver livre a qualquer preço de títulos que a falência do sistema europeu ameaçava tornar sem valor.
Ai entrou também em cena o próprio Presidente americano que exigiu aos seus congéneres europeus, nomeadamente a Merkel, medidas consistentes contra a crise que a todos ameaçava.
O tal Mecanismo de Estabilidade Financeira que a Alemanha acabou por aceitar a troco de medidas draconianas exigidas aos “países do sul” serviu para assegurar a solvência do sistema, mas não servirá para impedir a sua degradação progressiva.
De facto, o que passado pouco tempo se seguiu já não foi apenas a continuação dos ataques às economias dos países mais débeis, mas a própria descredibilização do euro enquanto moeda comum.
De facto, não é apenas o patrão do Deutsch Bank, Josef Ackermann, que duvida da capacidade da Grécia para pagar a sua dívida, é o próprio Paul Volcker, conselheiro económico de Obama, que admite a desintegração do euro, por entender, como entende a esquerda europeia que propõe um modelo alternativo para a UE, que não pode haver moeda única sem orçamento federal e sem união política.
Todavia, já se percebeu que este não vai ser o caminho seguido. Pelo contrário, vai seguir-se a mesma rota que até aqui tem sido seguida, com a diferença de a partir de agora se imporem medidas ainda mais drásticas para quem não é capaz de “acertar o passo”, havendo até quem advogue que tais medidas deveriam “constitucionalizar-se” para não poderem ser violadas!
Um modelo assente na recessão e no desemprego levará ao desencadeamento de mais ataques especulativos e acabará por minar decisivamente a credibilidade do euro, por, dentro de muito pouco tempo, se tornar evidente para todos o que desde há alguns anos já é para uns poucos: o euro como moeda comum não permite o crescimento no contexto da política monetária e orçamental que o gerou e no quadro da qual ele continua a viver.
A “constitucionalização” das tais medidas draconianas não passa de uma ideia que, se não fosse trágica pelo pensamento político que lhe está associado, seria ridícula. Como se o direito pudesse ser usado como colete-de-forças para impedir a erupção de uma situação que obviamente o supera!
A curto prazo o que desta crise resulta, além das graves medidas de austeridade que vão recair quase exclusivamente sobre o trabalho, é a desvalorização do euro que acaba por ser uma vantagem macroeconómica para todos os que estão mal e um pesadelo para quem tanto quis impor, contra a própria realidade económica, uma moeda forte!
Finalmente, as medidas tomadas pela União Europeia, no quadro da zona euro, não contribuem minimamente para inverter a realidade ainda há pouco evidenciada pelas estatísticas do FMI e suas projecções, no que respeita à relação do défice e da divida entre os países desenvolvidos e os emergentes. A média da dívida e do défice dos primeiros, em 2015, será, respectivamente, de 110,2% e 4,7%, e a dos emergentes de 34,2% e 2,4%, respectivamente.
Esta, em última análise, a raiz do problema.

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