sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DUARTE LIMA: O SENTIDO DE UMA ENTREVISTA



MAIS UMA VEZ JUDITE DE SOUSA

Nas entrevistas de Judite de Sousa é possível prever com relativa segurança o que se pretende com elas. A atitude da entrevistadora varia tanto em função dos entrevistados, que o espectador quando conhece o entrevistado ou, quando não o conhece, depois de feitas as primeiras perguntas, logo percebe que a entrevista ou tem por objectivo dar ao entrevistado uma oportunidade para se explicar perante o grande público, ou colocá-lo perante um conjunto de questões difíceis quase sempre alicerçadas numa tese que por via da entrevista se pretende demonstrar, ou – muito raramente – contribuir para o esclarecimento de um assunto.
A entrevista de hoje, a Duarte Lima, não fugiu à regra. A convicção com que se fica é a de que a entrevistadora pretendeu dar a Duarte Lima, num espaço de grande audiência, oportunidade para apresentar a sua própria versão sobre um tema que nas últimas semanas tem ocupado grande espaço na comunicação social.
As três grandes mensagens que Duarte Lima pretendeu deixar aos espectadores podem resumir-se assim:
Primeira: As pessoas seguramente mais interessadas na vida de Rosalina Ribeiro eram os seus advogados, em Portugal e no Brasil;
Segunda: Há uma campanha na comunicação social contra ele, montada por pessoas que o querem destruir, que ele recusa sequer dizer que suspeita quem sejam, embora o espectador fique com a convicção de que ele sabe quem são;
Terceira: O valor mais importante para Duarte Lima é a vida humana, causa a que se tem dedicado, empenhadamente, nos últimos anos.
Não tendo as três mensagens a mesma consistência lógica – a primeira mensagem não é logicamente sustentável – havia no caso Rosalina Ribeiro pessoas mais interessadas na sua vida do que os seus advogados, nem podendo o espectador aferir da veracidade das restantes, já que elas valem mais pela capacidade de persuasão de quem as profere do que propriamente pelo seu conteúdo probatório, restava a Duarte Lima explicar-se melhor nas demais matérias. Infelizmente, não o fez, já que por via de alegados deveres deontológicos e processuais se recusou a responder à generalidade das questões colocadas pela jornalista em tom afável e amigável, senão mesmo cúmplice.
Como acontecerá com a imensa maioria das pessoas que, de perto ou de longe, têm acompanhado o caso de “Rosalina Ribeiro”, também eu não tenho nenhum conhecimento directo do processo, nem estou de posse de quaisquer elementos que me permitam sequer compreender com rigor o móbil do crime.
Acontece que conheço o Brasil e até talvez possa dizer que, para estrangeiro, o conheça relativamente bem. Talvez por essa razão não tenha compreendido a justificação apresentada por Duarte Lima para vir de carro alugado de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro (não se sabe se dia, se de noite ou se de dia e de noite) – segundo ele, a mesma que o leva a viajar de carro de Lisboa para Madrid ou para Barcelona: maior segurança na estrada do que nos voos internos. E menos ainda compreendi que, depois das oito da noite, Duarte Lima tenha levado Rosalina de carro do Flamengo a Maricá, passando por Niterói e outras terras, para a levar a um encontro com uma desconhecida (dele) e a tenha deixado nesse local sem se preocupar com o seu regresso – ele que até tinha vindo de Belo Horizonte ao Rio, de carro, para se encontrar com a sua cliente.
Mas isto digo eu que conheço o Brasil. Duarte Lima, como seguramente o não conhece tão bem, dirá outra coisa e será muito mais ousado do que eu, predispondo-se a viajar de carro de Belo Horizonte ao Rio, com a mesma tranquilidade com que vai de Lisboa a Barcelona; e do Flamengo até Maricá, de noite, para aí deixar, com uma desconhecida, a pessoa por quem tinha estima e apreço com a mesma tranquilidade com que a levaria de Lisboa a Sintra para a deixar numa residencial.

4 comentários:

  1. També, ouvi e espantei.
    Só a descrição do pormenor da ida a Maricá, onde deixou a vítima, as horas a que o fez, e com quem, são um conjunto de dados quase irreais se pensarmos no Brasil de hoje...
    O homem pode estar totalmente inocente no crime de assassínio. Não tenho qq inforlaão em contrário.
    Do que não se salva é da condenação por abandono de pessoa, idosa e mulher, em situação de alto risco, em estado de necessidade e em condições de risco eminente.
    Quanto à informação de que apenas recebeu dinheiro que estava em contas em nome da vítima e sua cliente, isto é o quê?
    Então se alguém se locupleta com dinheiro de outrem ( apenas hipótese teórica!) e dele faz uso para pagamentos ou transferências para terceiros, isso não tem nome no Código Penal Português e no brasileiro?
    Valha-nos um deus de serviço!
    Que explicações tão bizarras!

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  2. Doutor Correia Pinto,

    aqui vai o link da entrevista:

    http://ww1.rtp.pt/multimedia/progVideo.php?tvprog=1436&idpod=

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  3. O principal problema de Duarte Lima é que a generalidade das pessoas acredita que, como muitos outros notáveis cavaquistas, ele é capaz de fazer umas coisitas e a comunicação social aproveita o filão. Veremos, ou talvez não.

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