segunda-feira, 16 de agosto de 2010

RECUPERAÇÃO DA ZONA EURO?


UMA PURA FICÇÃO

De acordo como os dados preliminares do Eurostat a economia da zona euro cresceu 1% no segundo trimestre deste ano por referência ao trimestre anterior. Portugal ficou-se pelos 0,2% e a Alemanha atingiu a cifra recorde de 2,2%, a maior desde a reunificação.
Se as médias já são na generalidade dos casos uma ficção, apenas descodificáveis pelo recurso sistemático a outros elementos, as da zona euro correm o risco, se tomadas à letra, de representarem uma pura mentira.
De facto, faz tanto ou tão pouco sentido juntar a economia da Alemanha à de Portugal para se obter uma média, como faz a junção da economia da Alemanha à do Gana ou da Nigéria, por muito estranha que esta afirmação possa parecer. Mas já faz todo o sentido dizer que a economia da Alemanha cresceu ao ritmo de 2,2% enquanto a portuguesa se ficou por um crescimento dez vezes menor. E o que se diz de Portugal, pode dizer-se da Espanha, da Irlanda e da Grécia, esta com uma divergência muitíssimo mais acentuada.
Ou seja, estas cifras apenas confirmam a tendência para uma divergência estrutural entre as economias mais competitivas da zona euro ou da própria UE e as dos países menos competitivos. De facto, o crescimento da Alemanha deveu-se fundamentalmente a um aumento das exportações, que retomaram a situação anterior à crise, e não a um aumento da procura interna, nem, consequentemente, a um aumento das importações, o que a ter-se verificado, poderia ter tido um efeito positivo nas demais economias europeias, na medida em que tal aumento decorresse de um aumento das exportações destes para a Alemanha.
Como não é esse o caso, nem tem sido nos últimos quinze anos, a razão primeira e fundamental do fraquíssimo crescimento dos países periféricos da zona euro ou, do seu mais que provável crescimento negativo nos próximos anos, tal como hoje já está a acontecer com a Grécia, deve-se ao modo como a zona euro e a própria UE estão estruturadas. Os planos de austeridade e as demais medidas restritivas em vigor e a implementar nos próximos anos não são a verdadeira causa dos resultados obtidos, mas antes uma consequência daquela estruturação. Ou, se se preferir, a causa próxima de outras causas mais remotas.
Podem dar as voltas que derem, podem, inclusive, derrubar o Estado Providência – ou o que dele resta – como o PSD se prepara para fazer, se for eleito, mas enquanto a zona euro e a própria União Europeia não forem profundamente reestruturadas no sentido de aproximar o seu funcionamento, em todos os domínios, às consequências das regras básicas que neste momento a dominam - liberdade de mercadorias, pessoas e capitais –, de modo a equilibrar os efeitos da liberalização num espaço económico altamente heterogéneo, os resultados, no plano macroeconómico, continuarão a ser os mesmos.
Quem prosseguir com esta política sem a questionar, nem modificar ou tentar modificar, buscando as alianças necessárias para o conseguir, o mais que poderá fazer é “empurrar” os desequilíbrios existentes para os mais numerosos, o mesmo é dizer, para os detentores dos rendimentos mais baixos, política que, de resto, já está a ser seguida, sem que, contudo, daí resulte qualquer tipo de equilíbrio futuro.
Quando os nossos “economistas” dizem que temos de fazer “dieta”, que temos de “emagrecer” e outras tretas do género, não estão, como se sabe, a referir-se ao emagrecimento dos “pançudos”, mas exigir que se tornem esqueléticos aqueles que já estão à beira da inanição!

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