MANIFESTAÇÕES DA CRISE
O Ocidente está em crise. Esta é uma afirmação polémica em todas as suas componentes. Desde logo, o que é o Ocidente? E, depois, o que é a crise? Como se manifesta, por que parâmetros se afere, nas sociedades plurais? Por outro lado, a problemática da crise é uma questão recorrente nas civilizações. Ainda há pouco menos de cem anos Spengler dissertou longamente sobre a decadência do Ocidente. E todavia…
São temas complexos, sem resposta simples, que não vamos abordar aqui. Vamos antes partir do entendimento comum que todos temos sobre o que é o “Ocidente” – cinquenta anos de Guerra Fria têm de servir para alguma coisa – e dos valores que o informam, que apesar de tudo estão consubstanciados nas deliberações mais relevantes da Organização das Nações Unidas e também em tratados negociados sob a égide de outras organizações internacionais de âmbito regional (ocidental).
Pois bem, esse Ocidente que há muitos séculos domina o mundo, com o alargamento e consequente deslocação do conceito ocorrido no último século, ou porventura ainda mais recentemente, para o outro lado do Atlântico Norte até ao Pacífico Norte, sofre desde há cerca de vinte anos, e cada ano que passa mais intensamente, as consequências da sua própria vitória no confronto fratricida que travou contra o socialismo. Fratricida, nem mais, já que ambos, capitalismo e socialismo, são filhos da mesma civilização.
Esse ocidente dominador, que conquistou, colonizou, escravizou, explorou o mundo, sempre acompanhado de uma retórica que lhe assegurava a superioridade moral sobre os conquistados, colonizados, escravizados e explorados, está a pouco e pouco, mas inexoravelmente, a perder a sua hegemonia em todos os planos.
Desde logo no plano dos “valores” não apenas pela dificuldade que cada vez mais tem de impor a sua universalidade, mas também pelo triste exemplo de hipocrisia e duplicidade que diariamente vai ficando a nu na contradição entre o que se defende e o que se faz. Mas também no plano militar, no qual, apesar de dispor da maior força bélica alguma vez imaginada por qualquer anterior civilização, já não consegue ganhar nenhuma das guerras em que se envolve. E, finalmente, no plano económico, que continua sendo, diga-se o que se disser, decisivamente determinante.
A pujança económica outrora hegemónica em todos os domínios, apesar de se manter em manifestações de prosperidade, riqueza e bem-estar, únicas no mundo, decai em cada dia que passa também inexoravelmente.
A crise do Ocidente não é, assim, tanto o resultado da situação que nele se vive, mas antes da antevisão do que o espera. O Ocidente está, muito justamente, assustado. E como todos os assustados tende agir irracionalmente e com brutalidade.
É assim, a meu ver, e apenas a título de exemplo, que devem ser interpretadas as propostas de Thilo Sarrazin em “Deutschland Schafft Sich Ab” (“A Alemanha auto-destrói-se”) bem como o seu acolhimento tanto por parte da população alemã, com dos militantes e simpatizantes dos principais partidos políticos (SPD, CDU/ CDS), as deportações de Sarkozy e a queima do Corão pelo pastor da Florida.
O Ocidente está em crise. Esta é uma afirmação polémica em todas as suas componentes. Desde logo, o que é o Ocidente? E, depois, o que é a crise? Como se manifesta, por que parâmetros se afere, nas sociedades plurais? Por outro lado, a problemática da crise é uma questão recorrente nas civilizações. Ainda há pouco menos de cem anos Spengler dissertou longamente sobre a decadência do Ocidente. E todavia…
São temas complexos, sem resposta simples, que não vamos abordar aqui. Vamos antes partir do entendimento comum que todos temos sobre o que é o “Ocidente” – cinquenta anos de Guerra Fria têm de servir para alguma coisa – e dos valores que o informam, que apesar de tudo estão consubstanciados nas deliberações mais relevantes da Organização das Nações Unidas e também em tratados negociados sob a égide de outras organizações internacionais de âmbito regional (ocidental).
Pois bem, esse Ocidente que há muitos séculos domina o mundo, com o alargamento e consequente deslocação do conceito ocorrido no último século, ou porventura ainda mais recentemente, para o outro lado do Atlântico Norte até ao Pacífico Norte, sofre desde há cerca de vinte anos, e cada ano que passa mais intensamente, as consequências da sua própria vitória no confronto fratricida que travou contra o socialismo. Fratricida, nem mais, já que ambos, capitalismo e socialismo, são filhos da mesma civilização.
Esse ocidente dominador, que conquistou, colonizou, escravizou, explorou o mundo, sempre acompanhado de uma retórica que lhe assegurava a superioridade moral sobre os conquistados, colonizados, escravizados e explorados, está a pouco e pouco, mas inexoravelmente, a perder a sua hegemonia em todos os planos.
Desde logo no plano dos “valores” não apenas pela dificuldade que cada vez mais tem de impor a sua universalidade, mas também pelo triste exemplo de hipocrisia e duplicidade que diariamente vai ficando a nu na contradição entre o que se defende e o que se faz. Mas também no plano militar, no qual, apesar de dispor da maior força bélica alguma vez imaginada por qualquer anterior civilização, já não consegue ganhar nenhuma das guerras em que se envolve. E, finalmente, no plano económico, que continua sendo, diga-se o que se disser, decisivamente determinante.
A pujança económica outrora hegemónica em todos os domínios, apesar de se manter em manifestações de prosperidade, riqueza e bem-estar, únicas no mundo, decai em cada dia que passa também inexoravelmente.
A crise do Ocidente não é, assim, tanto o resultado da situação que nele se vive, mas antes da antevisão do que o espera. O Ocidente está, muito justamente, assustado. E como todos os assustados tende agir irracionalmente e com brutalidade.
É assim, a meu ver, e apenas a título de exemplo, que devem ser interpretadas as propostas de Thilo Sarrazin em “Deutschland Schafft Sich Ab” (“A Alemanha auto-destrói-se”) bem como o seu acolhimento tanto por parte da população alemã, com dos militantes e simpatizantes dos principais partidos políticos (SPD, CDU/ CDS), as deportações de Sarkozy e a queima do Corão pelo pastor da Florida.
boas analises.
ResponderEliminareste blog merecia um visual novo, mais fresco. pense nisso.
S.
O dr. Correia Pinto refere, e com toda a propriedade, que o dito Ocidente dispõe da mais formidável força militar (também ainda poderia dizer económica) alguma vez existente na História e, ainda assim, tem vindo a perder todas as guerras. Bom, mas não será porque, também consequência das suas contradições, não usa efectivamente essa força? Uma coisa parece certa; a manter-se a sequência, de pequenas em pequenas derrotas chegará a uma derrota final. Os provérbios transmitem uma mensagem e o seu contrário, mas há aquele que diz que quem os inimigos poupa....
ResponderEliminarCaro Correia Pinto
ResponderEliminarO teu artigo, inteligente e bem escrito como sempre, é no entanto tipicamente "ocidental".
Com efeito, como José Cutileiro diz no seu artigo de hoje no "Expresso", "os ocidentais têm o hábito inveterado de se culpabilizarem - o que não passa nunca por cabeças chinesas" (nem africanas nem muçulmanas, poderia acrescentar-se).
Eu prefiro dizer, parafraseando Churchill: a civilização ocidental é a pior que há, com exceção de todas as outras!
Um abraço
Horta Pinto