segunda-feira, 4 de outubro de 2010

AS PRESIDENCIAIS BRASILEIRAS



AFINAL, NÃO HOUVE PLEBISCITO

As eleições presidenciais no Brasil, embora possam continuar a ser consideradas como o “terceiro mandato” de Lula, já que sem a popularidade do actual Presidente as hipóteses de Dilma seriam muito reduzidas, também demonstram que o povo brasileiro está longe de aceitar um plebiscito.
Marina Silva com quase vinte por cento dos votos, o equivalente a cerca de vinte milhões, foi a grande “vencedora” da noite e, simultaneamente, a responsável pelo segundo turno, que terá lugar no fim do mês de Outubro entre Dilma e Serra.
Só uma “catástrofe” que, em princípio se não prevê, impedirá vitória de Dilma na segunda volta. Todavia, Marina com o seu “ascetismo” político deixou claro que no Brasil de hoje, para além do PT e da direita, há outras forças pouco ou nada comprometidas com a governação, no sentido pejorativo que o conceito tem no Brasil, que aspiram por um país diferente e mais voltado para os reais problemas das pessoas.
Muito provavelmente o resultado de Marina não terá ainda grande repercussão no próximo mandato, nomeadamente pela pouca influência que os apoiantes da candidata têm no Congresso. Mas a semente está lançada. O Brasil está a mudar. Não mudou muito apenas com Lula. Vai continuar a mudar para melhor…

9 comentários:

  1. Sem dúvida que há uma emergente e cada vez mais evidente vontade de mudança na política brasileira. Uma vontade construída em cima valores ambientais, transparência e idoneidade políticas, cuja bandeira é, acima de tudo, levantada pelos sectores mais jovens do eleitorado, não nascidos ou oriundos de qualquer berço oligárquico.
    Marina Silva soube catalisar esses valores.
    Porém, não se lhe advinham decisões fáceis neste contexto. Será necessária uma grande habilidade política para não se descredibilizar face a este eleitorado. Afigura-se que o eventual apoio a qualquer um das candidaturas a 31 de Outubro lhe retirará o capital político agora granjeado. E, se apoiar alguém, não acredito que seja José Serra. Salvo se com base num conteúdo programático bem claro e definido, que responda às perspectivas deste eleitorado e que, estou certo, Dilma também estará disponível para negociar, agora que percebeu que na política não há vitórias antecipadas, mesmo que se tenha Lula sempre ao lado.
    O assédio vai ser forte e a negociação vai ser difícil. É que uma fatia de 20% do eleitorado pode fazer pender a balança para qualquer um dos lados. Mesmo descontado os que nela votaram por protesto.

    JR

    ResponderEliminar
  2. Meu caro Correia Pinto
    "...para além do PT e da direita..."
    Então agora o PT, que tirou 20 milhões de famílias da pobreza, já é do centro? O que é que lhe falta para lhe passares atestado de esquerda? Um goulag? Reduzir a generalidade da população à miséria, como em Cuba? Matar um milhão de pessoas à cacetada, como o Pol Pot? Pôr o filho do Lula a suceder-lhe, como na Coreia do Norte?
    Meu caro, parece-me que, parafraseando o Fernando Pessoa, ainda procuras "um oriente a oriente do oriente". Mas olha que, como o mesmo Pessoa dizia noutro poema, "a oriente do oriente é outra vez ocidente"!
    Um grande abraço do
    Horta Pinto

    ResponderEliminar
  3. Meu Caro Horta Pinto

    Que má consciência a tua! Logo te sentiste por no texto o PT se confrontar com a direita sem outras qualificações que não as de PT!
    Talvez tu saibas melhor do que eu que a corrupção que o tem minado desde o primeiro dia e as muitas negociatas que tem feito (políticas e outras), muitas delas com o pior que o Brasil tem,desaconselham a generalização das qualificações.
    No fundo, no fundo, eu sei que não estavas a falar do PT nem a defendê-lo. As tuas defesas andam mais pelo ocidente do ocidente...
    Grande Abraço e nunca te esqueças: pior do que tropeçar duas vezes na mesma pedra, é tropeçar três!

    ResponderEliminar
  4. O último post não é anónimo. É do autor do blogue
    CP

    ResponderEliminar
  5. Caro CP
    Má consciência não tenho, pois nada me liga ao PT, nem a qualquer homólogo português, a não ser uma certa simpatia por partidos que, sendo contra a direita e estando realmente "voltados para os reais problemas das pessoas", não têm às costas crimes contra a humanidade e respeitam os direitos do homem e as liberdades.
    Já não acredito em políticos "bacteriologicamente puros"; todos os políticos e respectivos partidos têm os seus defeitos, pelo que nenhum merece a minha adesão incondicional. Tal como dizia o António José Saraiva, numa sociedade organizada os políticos são não propriamente "indispensáveis" mas apenas "inevitáveis". Temos pois que os aturar, com os defeitos que todos têm. O que temos é de escolher os que têm defeitos menos maus. Detesto os corruptos e os que pactuam com a corrupção. Mas sempre prefiro um Lula, talvez "humano, demasiado humano" a políticos "ascéticos" - quase sempre "desumanos, demasiadamente desumanos". Ascético era o Salazar, e foi o que nós sabemos; o Robespierre era tão ascético que mereceu o cognome de "Incorruptível", mas tinha o "pequeno" defeito de não passar um dia sem mandar umas tantas pessoas para a guilhotina; o Stalin era tão incorruptível que deixou morrer o próprio filho às mãos dos alemães que propunham trocá-lo por um general alemão porque "não trocava um general por um tenente" - e no entanto fez coisas monstruosas.
    Já tive muitas ilusões e outras tantas desilusões; daí o meu actual cepticismo, que me leva a considerar, como o Churchill, que a democracia é o pior dos sistemas, com excepção de todos os outros.
    Um abraço, e obrigado por esta conversa electrónica, que quase me faz sentir sentado contigo à mesa do saudoso Mandarim!

    ResponderEliminar
  6. Isto vem a despropósito. Finalmente, mudaste de visual. O Politeia era um horror, visualmente! Ainda há agora coisas a corrigir, não recorres a este teu amigo que sabe da net, mas já está muito melhor.

    ResponderEliminar
  7. Meu Caro Horta Pinto

    Muito bom o teu comentário. Por estranho que te possa parecer estou de acordo contigo. Aliás, talvez tenha tudo começado num mal entendido, esclarecida que está a inexistência da má consciência. Eu não disse que o Lula era de centro. Apenas falei do PT por contraposição à direita. Lula fez coisas admiráveis e por esses feitos ficará certamente na história do Brasil por séculos ou talvez para sempre. Disso não pode haver muitas dúvidas. O que já não estou tão seguro é que o partido que ele fundou, e com o apoio do qual foi governando com algumas alianças firmes e outras de ocasião, seja capaz de, sem ele, manter o rumo que sempre guiou o “metalúrgico”, mesmo quando certos esquerdismos de ocasião o criticavam por não ter ido mais além.
    O que há de novo no Brasil de Lula é um duplo objectivo de governação que nunca tinha existido antes dele e muito menos simultaneamente: por um lado, a formação de um Brasil forte, independente, sem alinhamento nem subjugação a interesses alheios; por outro, uma aposta num crescimento gradual e constante da grande massa da população brasileira por uma via sustentada, todavia sem dispensa de uma forte componente assistencialista como meio indispensável de atribuição da dignidade mínima a quem não tinha nenhuma, absolutamente nenhuma e, portanto, não estava em condições de esperar que as novas políticas de crescimento do rendimento das camadas populares começassem a produzir os seus efeitos.
    Com Lula este rumo manteve-se inalterado e registou progressos constantes sem que simultaneamente tenha havido diminuição do rendimento de quem tinha (e continua a ter) muito. Esta foi uma aposta complicada que Lula foi capaz de pôr em prática sem suscitar a adversidade dos poderosos. Tem também de reconhecer-se que a conjuntura favoreceu os seus planos. Como tudo corria de vento em popa, para quê levantar problemas? Mas é igualmente verdade que num país com a dimensão do Brasil, a conjuntura também se faz.
    Vamos ver se o PT, no futuro, sem Lula (sim, não haja ilusões, sem Lula ao leme) vai conseguir resistir às muitas pressões que a classe possidente vai fazer para, baseada na “conjuntura internacional”, fazer ressurgir o velho “país dual” que Lula tanto se esforçou por esbater…
    É que, de facto, não houve diminuição de rendimentos de quem tinha muito; todavia, se a repartição continuasse a ser feita como historicamente sempre se fez no Brasil, quem agora tem muito ainda teria muito mais!
    Um grande abraço
    CP

    ResponderEliminar
  8. Meu Caro JVC

    Agradeço a oferta. Agora estou muito longe. Quando regressar e estiver mais perto relembrarei a oferta de assessoria.
    Grande abraço
    CP

    ResponderEliminar
  9. A Dilma já está fazendo progressos. Já diz: "Você é réu por difamação contra mim". Ainda há pouco tempo dizia. "Você é réu por difamação contra eu".
    Mas se o Brasil já está discutindo na campanha eleitoral os temas do BLoco (de Esquerda, para brasileiros perceberem), não quererá isso significar que o povo já está satisfeito com o que tem? De facto, não lemmbra ao diabo que um país com tantos problemas para resolver tenha erigido o aborto em tema da campanha!

    ResponderEliminar