terça-feira, 19 de outubro de 2010

A EASYJET E O GOVERNO PORTUGUÊS




MAIS UMA DO GOVERNO SÓCRATES

A comunicação social tem a função de informar e de desinformar. O papel desinformatiivo da comunicação social no “capitalismo avançado” dos nossos dias é hoje muito mais importante do que o dever de informar.
A notícia sobre a putativa (ou é que já há mesmo acordo?) constituição de uma base da Easyjet no Aeroporto da Portela constitui um bom exemplo do que acaba de ser dito. Enumeram-se os factos, aparentemente de forma crua, mas não se deixa uma única interrogação sobre o seu significado.
Vamos então tentar percebê-los. O Governo Sócrates, por intermédio da ANA (empresa pública, detida a 100% pelo Estado), vai conceder taxas mais reduzidas à Easyjet, empresa low cost, no Aeroporto da Portela. Além disso, o Governo Sócrates vai atribuir um subsídio por cada passageiro transportado, não se percebendo ainda bem se em todas as rotas ou apenas em algumas delas.
Depois, diz-se que a Easyjet vai investir 300 milhões de euros na instalação desta nova base e criar 2000 postos de trabalho. Claro, isto são “previsões”. E sobre previsões, além de termos a experiência acumulada da acção de Pina Moura e de Manuel Pinho à frente do Ministério da Economia, traduzida no esbanjamento de milhões em subsídios para projectos nunca concretizáveis ou daqueles que desmontam a tenda logo que recebem o dinheiro, temos também tristemente acumulada a experiência das previsões dos economistas do establishment tanto na macro como na microeconomia. Em matéria de previsões mais nos valia creditar nas do falecido Zandinga, porque este, ao menos, sempre conhecia os contactos com os árbitros e estava, por isso, em melhores condições para acertar.
Bem, mas vamos ao que interessa.
O Estado Português é proprietário, como toda a gente sabe, de uma prestigiada companhia de aviação, com várias décadas de existência, que tenta, no mundo globalizado em que vivemos, resistir à concorrência feroz (e desleal) das low cost, bem como ao apetite feroz daqueles que no mesmo mercado a querem pura e simplesmente engolir. E o que faz o Governo Sócrates? O Governo Sócrates ajuda a concorrência estrangeira a derrubá-la: cobra taxas altíssimas à TAP no Aeroporto da Portela e oferece à Easyjet taxas a preços reduzidos, instalando-a no mesmo local onde a TAP tem a sua base principal!
É claro que o objectivo do Governo é ainda mais perverso: o Governo quer falir a TAP, para a entregar de graça ao primeiro banqueiro (ou a um dos seus parceiros nas parcerias público-privadas) que queira ficar com ela.
Mas há mais. Com esta jogada o Governo quer tornar irreversível, o mais rapidamente possível, a construção do novo aeroporto.
Um dos argumentos mais frequentemente usados para justificar a construção do novo aeroporto é o de que a Portela não comporta mais aviões. Ao instalar uma base da Easyjet na Portela, o Governo quer acrescentar massa crítica àquele argumento, para justificar, o mais rapidamente possível, a construção do novo aeroporto e com ele a entrega da ANA, uma empresa altamente lucrativa, ao capital privado, seguramente em condições ruinosas para o erário público português (se alguém tem dúvidas, que leia o livro de Carlos Moreno sobre o que são as parcerias público-privadas).
Como aqui repetidamente se tem dito, o governo (qualquer governo) é o grande inimigo do Estado. Interessa acrescentar que entre nós, quem leva a primazia nesta matéria é, dentro do governo, o Ministério dos Transportes e Comunicações, um dos grandes causadores da ruína nacional!
Em qualquer país do mundo, desde a supercapitalista América até aos moderados nórdicos, passando pelos proteccionistas de base nacionalista como o Brasil, a China e tantos outros, um governante que se atrevesse a anunciar um negócio destes acabaria nesse dia a sua carreira política e teria muita sorte se acabasse essa carreira em casa!

4 comentários:

  1. Tivemos hoje a oportunidade de fazer uma leitura mais prolongada do que aqui se vem publicando.
    Manifesto o meu total agrado pela clareza e clarividência das análises feitas.
    Isto só reforça a nossa ideia de que existe muita gente válida que está ofuscada por este ignóbil sistema politico, ardilosamente montado e que urge desmantelar.
    Vamos colocar este blog entre aqueles que mais consideramos.
    Obrigado pela informação que vai disponibilizando.
    Carlos Luis

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  2. Isto também pode prenunciar, como defendido há tempos pelos interesses turísticos de Lisboa, que a Portela fique para low costs, charters turísticos e voos de negócios. Ao contrário da prática geral de atirar esse tipo de operações para aeroportos secindários a léguas das capitais. O meu filho ia a Estocolmo, no seu Erasmus, para um aeroporto a 100 km da cidade.

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  3. E se a Portela ficasse só " para low costs, charters turísticos e voos de negócios", pra outra banda restava o quê?? Voos para deputados e ministros, para assuntos políticos e carga?

    Acho melhor fechar o país para balanço.
    Esta cambada atira-nos ao fundo.

    Quais são os jornais com mais saída? Não são esses que gozam de mais publicidade e publicações do governo e empresas públicas?
    Avelino Sampaio

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  4. Resta acrescentar que o investimento de milhões, refere-se à aquisição dos aviões.
    O que não traz nenhum valor acrescentado para Portugal, visto serem adquiridos a um fabricante europeu e registidos em Inglaterra.
    Porque não o uso da base do Montijo ou Alverca para este tipo de aviação "rasca"...
    Mas gostei da clareza dos objectivos que este (des)governo pretende camuflar...

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