NO RESCALDO DAS ELEIÇÕES INTERCALARES
As eleições americanas despertam um inegável interesse nos quatro cantos do mundo. Nos últimos anos esse interesse tem-se intensificado de tal modo que, desde as eleições presidenciais, passando pelas eleições para o congresso, governadores, até às eleições ditadas por vacatura de algum cargo (naqueles caso em que o sucessor é determinado por eleição), tudo é comentado ao pormenor, às vezes com mais paixão e interesse do que uma eleição nacional.
Não se sabe se isto acontece como consequência da globalização da informação, hoje disponível em tempo real, ou se por uma espécie de premonição subconsciente de que há uma hegemonia que já não é o que era, ou talvez até já esteja a ser gradual e consolidadamente conquistada por outros.
Prova desse interesse entre nós é a existência de blogues que apenas têm por objecto a política americana e de comentadores especializados que nos dão, uns e outros, regularmente as suas opiniões como se nos estivessem a dar uma aula de ciência política.
Tenho para mim que a política de um país só pode ser verdadeiramente compreendida, nas suas múltiplas nuances, por quem lá viva.
Já experimentei e reconheço a diferença. Mas também há quem lá viva e nada compreenda, mesmo quando a sua missão é compreender para explicar e informar.
Como nem todos, infelizmente, estão em condições de poder viver naqueles países cuja política influencia a do resto do mundo, vamos ter de nos contentar com as análises feitas a partir de cá, quase sempre bastante generalizantes para não incorrer em erros muito evidentes, com base nas fontes colhidas lá.
Vem tudo isto a propósito da derrota de Obama e do Partido Democrata nas eleições intercalares.
Sucedem-se os conselhos a Obama sobre como actuar para não ser um presidente de um só mandato, repetindo o “feito” de Bush (pai) e de Carter, bem como as previsões sobre o que espera.
Antes de mais, é preciso dizer que perder as eleições intercalares constitui a regra. Desde 1932 (eleição de Roosevelt) até hoje só Roosevelt as ganhou em 1934 e W. Bush em 2002, no clima emocional que seguiu ao ataque ao WTC. Todos os demais as perderam, por mais ou menos margem.
Desta vez a derrota foi muito badalada por duas razões, aliás interligadas: em primeiro lugar, por as duas anteriores vitórias dos democratas, nomeadamente a de 2008, terem sido muito expressivas; e em segundo lugar, por ter havido uma fortíssima reacção da extrema-direita a esta última vitória num país que já estava muito polarizado e relativamente ao qual se supunha que a direita já havia atingido nos últimos anos o limite máximo de extremismo admissível pelo sistema. Pelos vistos não: há sempre a possibilidade de um novo reaccionário ser ainda mais reaccionário do que o anterior.
Dentre os conselhos prodigalizados pelos media, ouve-se com frequência dizer que Obama deve tentar encontrar pontos de convergência com os republicanos, abdicar de alguns dos seus projectos e tentar trabalhar com os adversários. E foi um pouco neste sentido o seu primeiro discurso depois da derrota.
Todavia, o discurso dos republicanos, sejam eles do Tea Party ou não, é muito claro. Dizem eles: da mesma forma que a nossa política nos primeiros dois anos foi obstruir tudo o que vinha do lado deles, também agora o nosso grande objectivo é fazer dele um Presidente de um só mandato. E revogar tudo o que foi feito na primeira parte do mandato.
As eleições americanas despertam um inegável interesse nos quatro cantos do mundo. Nos últimos anos esse interesse tem-se intensificado de tal modo que, desde as eleições presidenciais, passando pelas eleições para o congresso, governadores, até às eleições ditadas por vacatura de algum cargo (naqueles caso em que o sucessor é determinado por eleição), tudo é comentado ao pormenor, às vezes com mais paixão e interesse do que uma eleição nacional.
Não se sabe se isto acontece como consequência da globalização da informação, hoje disponível em tempo real, ou se por uma espécie de premonição subconsciente de que há uma hegemonia que já não é o que era, ou talvez até já esteja a ser gradual e consolidadamente conquistada por outros.
Prova desse interesse entre nós é a existência de blogues que apenas têm por objecto a política americana e de comentadores especializados que nos dão, uns e outros, regularmente as suas opiniões como se nos estivessem a dar uma aula de ciência política.
Tenho para mim que a política de um país só pode ser verdadeiramente compreendida, nas suas múltiplas nuances, por quem lá viva.
Já experimentei e reconheço a diferença. Mas também há quem lá viva e nada compreenda, mesmo quando a sua missão é compreender para explicar e informar.
Como nem todos, infelizmente, estão em condições de poder viver naqueles países cuja política influencia a do resto do mundo, vamos ter de nos contentar com as análises feitas a partir de cá, quase sempre bastante generalizantes para não incorrer em erros muito evidentes, com base nas fontes colhidas lá.
Vem tudo isto a propósito da derrota de Obama e do Partido Democrata nas eleições intercalares.
Sucedem-se os conselhos a Obama sobre como actuar para não ser um presidente de um só mandato, repetindo o “feito” de Bush (pai) e de Carter, bem como as previsões sobre o que espera.
Antes de mais, é preciso dizer que perder as eleições intercalares constitui a regra. Desde 1932 (eleição de Roosevelt) até hoje só Roosevelt as ganhou em 1934 e W. Bush em 2002, no clima emocional que seguiu ao ataque ao WTC. Todos os demais as perderam, por mais ou menos margem.
Desta vez a derrota foi muito badalada por duas razões, aliás interligadas: em primeiro lugar, por as duas anteriores vitórias dos democratas, nomeadamente a de 2008, terem sido muito expressivas; e em segundo lugar, por ter havido uma fortíssima reacção da extrema-direita a esta última vitória num país que já estava muito polarizado e relativamente ao qual se supunha que a direita já havia atingido nos últimos anos o limite máximo de extremismo admissível pelo sistema. Pelos vistos não: há sempre a possibilidade de um novo reaccionário ser ainda mais reaccionário do que o anterior.
Dentre os conselhos prodigalizados pelos media, ouve-se com frequência dizer que Obama deve tentar encontrar pontos de convergência com os republicanos, abdicar de alguns dos seus projectos e tentar trabalhar com os adversários. E foi um pouco neste sentido o seu primeiro discurso depois da derrota.
Todavia, o discurso dos republicanos, sejam eles do Tea Party ou não, é muito claro. Dizem eles: da mesma forma que a nossa política nos primeiros dois anos foi obstruir tudo o que vinha do lado deles, também agora o nosso grande objectivo é fazer dele um Presidente de um só mandato. E revogar tudo o que foi feito na primeira parte do mandato.
Tanto o líder (Mitch McConnell) da minoria no Senado, como o líder (John Boehner) da (nova) maioria na Câmara de Representantes se expressaram neste sentido, além, claro, de Sarah Palin e seus acólitos.
Mas também não falta quem, do outro lado, chame Obama à razão e lhe faça ver que com gente desta não adianta contemporizar. Quanto mais se encolher mais eles vão atacar. O que tem é de ser convincente e explicar ao povo americano quem eles são, como fez Roosevelt.
Mas também não falta quem, do outro lado, chame Obama à razão e lhe faça ver que com gente desta não adianta contemporizar. Quanto mais se encolher mais eles vão atacar. O que tem é de ser convincente e explicar ao povo americano quem eles são, como fez Roosevelt.
Robert Reich, ministro do trabalho de Bill Clinton, é muito claro: “Obama deveria inspirar-se em Roosevelt, que no seu tempo denunciava os republicanos como sinónimo de “monopólios industriais e financeiros, de especulação, de bancos irresponsáveis…” e não desamparar o seu próprio terreno, tentando aproximar-se do centro”.
Diz Reich: “Nos próximos dois anos, os republicanos tentarão retratar Obama como um liberal, defensor de um Estado intervencionista, desligado da América real, e torná-lo responsável pela persistência das dificuldades económicas.
Obama não poderá ganhar este debate aproximando-se do centro, apresentando-se como um moderado, defensor de um Estado modesto. Isso apenas contribuiria para fortalecer as teses dos republicanos que defendem que a questão central é da dimensão do Estado, hoje sobredimensionado, e que a situação económica só poderá melhorar se o Estado diminuir o seu papel.
(Lutando) Sobre o terreno definido pelos republicanos, só eles poderão ganhar”
O resto do artigo, muito interessante, pode ser lido aqui.
Diz Reich: “Nos próximos dois anos, os republicanos tentarão retratar Obama como um liberal, defensor de um Estado intervencionista, desligado da América real, e torná-lo responsável pela persistência das dificuldades económicas.
Obama não poderá ganhar este debate aproximando-se do centro, apresentando-se como um moderado, defensor de um Estado modesto. Isso apenas contribuiria para fortalecer as teses dos republicanos que defendem que a questão central é da dimensão do Estado, hoje sobredimensionado, e que a situação económica só poderá melhorar se o Estado diminuir o seu papel.
(Lutando) Sobre o terreno definido pelos republicanos, só eles poderão ganhar”
O resto do artigo, muito interessante, pode ser lido aqui.
Mas não é só Reich a aconselhar Obama, também Jonh Podesta, que foi chefe de gabinete de Bill Clinton e é agora Presidente do Fundo de Acção para o Progresso Americano, embora admita e defenda o diálogo, estabelece de forma muito clara os limites inegociáveis.
Finalmente, a candidatura de Nancy Pelosi a líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes deixa compreender que o tempo que se segue vai ser de duro combate sem falsas tréguas.
Finalmente, a candidatura de Nancy Pelosi a líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes deixa compreender que o tempo que se segue vai ser de duro combate sem falsas tréguas.
Pode ser que Obama aprenda...
Lidar com aquela maquinaria de Washington não é fácil e não me parece que o homem tenha mão para aquilo. Era bonito que conseguisse fazer umas reformazitas que ficassem para a História porque ele tem uma história de vida interessante. E atípica. Vamos a ver. Mas tem um caminho muito difícil
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