segunda-feira, 22 de novembro de 2010

MARCELO REBELO DE SOUSA E A POBREZA


OS “REMÉDIOS” DA DIREITA PARA COMBATER A CRISE

A direita está eufórica como já não estava há muitas décadas. Tanto a direita internacional como a doméstica. Insatisfeita com as vitórias acumuladas nestes últimos trinta anos, a direita quer agora uma vitória sem resgate, sem “prisioneiros”.
A sua meta mais imediata é reduzir a escombros o que resta do estado social. Começará pelos Estados em crise e depois de nestes ter arrasado o estado social partirá para outras conquistas.
A crise é a desculpa e o pretexto, mas a razão profunda é de natureza ideológica. O capitalismo financeiro não quer que nada possa tolher a sua voracidade especulativa. Quanto menos o Estado intervier, melhor. Apenas exige que o Estado intervenha para defender a sua liberdade e a sua propriedade, conceitos que nesta fase do desenvolvimento capitalista tendem a ser cada vez mais sinónimos.
No caso português, há ainda outras razões. Tendo estado a generalidade do povo português afastada do chamado “welfare state” durante as largas décadas que decorreram entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o 25 de Abril, por força de uma política salazarista retrógrada que propositadamente defendia a estratificação das classes e era inimiga do crescimento económico, tudo fazendo, inclusive com recurso a medidas brutalmente repressivas, para impedir a redistribuição dos rendimentos, nunca a consagração dos direitos económicos, sociais, laborais, culturais, etc., conquistada com o 25 de Abril e que, sempre com muita dificuldade, foram sendo parcialmente materializados, foi aceite pela direita portuguesa como elemento estruturante da nossa sociedade.
As manifestações de rejeição, nos tempos que correm, de tudo o que "cheire" a conquistas sociais aparecem em cada discurso, mais ou menos abertamente, embora muitas vezes matizadas pela linguagem hipócrita de conhecidos lugares comuns enganadores: é preciso fazermos sacrifícios agora (deixando implícito que os sacrifícios são de todos) para podermos viver melhor amanhã; ou ainda, para redistribuir é preciso crescer; vamos crescer primeiro e depois se redistribuirá (como se o “bolo” de que estamos a falar fosse sempre um hipotético e inatingível “bolo” futuro, quando o que nos interessa é fatiar com justiça o “bolo” que existe).
Mas às vezes a hipocrisia da linguagem da direita é traída pela euforia com que está vivendo o tempo presente. Aconteceu isso, ontem, com Marcelo Rebelo de Sousa por mais de uma vez.
A primeira foi quando “rapou” de uma cábula que tinha no bolso para ler embevecido as medidas de austeridade que a Irlanda vai ter de aplicar e que, segundo ele, dentro de muito pouco tempo serão igualmente aplicáveis em Portugal. Havia naquele entusiasmo um indiscutível sentimento de desforra de quem não esperou 35 anos em vão!
Mas o pior, muito pior, veio depois, quando afincadamente defendeu o afastamento do Estado de todos os eventuais programas de emergência de combate à pobreza extrema, reclamados pela actual situação. Aí, sem disfarces, defendeu a esmola e a humilhação que ela encerra. Como nos “bons velhos tempos” salazaristas, não haverá direitos. Haverá esmolas. Quando muito, os pobres poderão contar, como no tempo de Salazar, que haverá quem deles se ocupe num dos dias da semana: “Hoje é o dia do meu pobre”. Nos outros dias que procurem outro dono!
No fundo, Marcelo quando pediu à TAP para distribuir os restos da comida que sobra nos aviões pelos pobres mais não fez do que defender uma máxima do Estado neoliberal dos nossos dias: afastar o cidadão do Estado, eliminando-lhe os direitos e fazendo-o aproximar, sem direitos e em condição humilhante, de quem na lógica neoliberal o deve substituir.
É claro, que eles estão a ir longe de mais. Estão a cavalgar exageradamente o sucesso e ainda nem sequer se aperceberam que estão a destruir todos os laços que formam uma sociedade; estão a destruir aquela fina membrana que liga os interstícios do tecido social. Depois não se queixem!

3 comentários:

  1. Sim, a direita etá feliz. Ainda ontem, Passos Coelho, falando para meia dúzia de apaniguados, não conseguiu esconder a alegria que lhe ia na alma, quando anunciou austeridade por oito ou mais anos. Com ou sem revisão constitucional, poderá finalmente acabar com tudo aquilo que começou por defender à frente do PSD: escola pública, SNS, segurança social, etc.
    Isto pensa ele. A ver vamos...

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  2. Pois é, a coisa vai assim, como diz. No plano mundial o capitalismo, no seu máximo esplendor como capitalismo financeiro, não tem a atemorizá-lo e a travá-lo "o perigo do comunismo" que a existência da URSS representava. E assim vai por aí fora, como se vê. À mafia financeira global e aos seus mercenários, têm os prejudicados (e serão 70, 80, 90% da população?) de procurar dar respostas globais.
    Em Portugal a direita, os seus empregados de luxo e os papagaios ensinados nas teorias neoliberais fazem o que podem, implorando que os juros da dívida subam, subam, exactamente para isso que diz, para desmantelar o nosso serôdeo e pouco desenvolvido Estado Social e possam tirar mais lã ao que eles julgam ser a carneirada. Sentem o cheiro a carniça. O que é triste é ver os papagaios a cantar loas a julgarem que também lhes calhará algum a eles.
    Jorge Aguiar

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  3. Julgo que a cábula do Marcelo funcionou,o numero de adesão à greve,é um indicativo. Nunca esperei ver Carvalho da Silva e Marcelo no mesmo cacilheiro. Nos pros e contras,agarraram-se as questoes legais, e não entraram nos fundamentos da greve. o remate final de C da Silva foi o tratamento dado aos bancos em paralelo com os trabalhadores.

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