domingo, 14 de novembro de 2010

MARCELO REBELO DE SOUSA, A NOTÍCIA E O COMENTÁRIO


NEM TUDO SE PODE DESCULPAR
Desculpa-se muita coisa a Rebelo de Sousa como comentador político. Umas vezes porque tem graça; outra, porque espeta farpas en passant, como quem come tremoços; outras ainda, porque é maledicente, conspira e intriga para nos divertir e se divertir; finalmente, porque a maior parte das vezes exibe-se com inteligência e quem assiste a espectáculos divertidos sente-se recompensado com a inteligência do entertainer.
Mas tudo tem os seus limites. A incorrecção dos factos; a omissão de certos comportamentos; e a interpretação de algumas posições por vezes agridem a inteligência do telespectador. E ai é o entertainer que deixa de ser inteligente.
Cito exemplos do comentário de hoje.
Dizer que a NATO foi criada no tempo da Guerra Fria como organização militar de defesa contra o Pacto de Varsóvia é um pouco aquilo a que Eça chamava a “impossibilidade metafísica” quando acusaram o “Crime do Padre Amaro” de ser um plágio de “La Faute de L’ Abbé Mouret”.
Marcelo deveria saber que a NATO foi constituída em 1949…e o Pacto de Varsóvia em 1955. Aliás, deveria saber mais. Deveria saber que antes da constituição do Pacto de Varsóvia, a URSS até pediu a adesão à NATO. Se a NATO era uma organização defensiva, criada para defender a Paz, a URSS também queria pertencer a uma organização com essas características, disseram a Eisenhower os dirigentes soviéticos. Aqui os pormenores.
Segundo exemplo: Marcelo sempre tão atento a tudo o que se passa, principalmente a todos os deslizes grandes e pequenos dos nossos políticos, omitiu a intervenção do governador do Banco de Portugal, numa reunião luso-espanhola, sobre os juros da dívida pública. Nada, nem uma palavra.
Em terceiro lugar, não deixa de ser espantoso que Marcelo venha elogiar o PSD por não ter falado tanto, como habitualmente, sobre tudo o que se refere à dívida, aos juros e ao défice. De facto, o que Marcelo deveria ter dito é que o PSD depois de meses a fio a dizer asneiras e a fazer ameaças, a ponto de ter sido desautorizado pelo patrão de Belém, como que se envergonhou de continuar a falar no mesmo tom. Mas isso não tem nenhum mérito. O mérito está todo do lado de quem não lhe suporta as asneiras e as ameaças.
Moral da história: quando cheira a poder, até Marcelo muda de faro…

2 comentários:

  1. Caro JMCorreia Pinto,
    Excelente.Fiz link para "A Carta a Garcia".Obrigado.
    Abraço.

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  2. Creio que tem imensa razão.
    No entanto, a forma como começa por desculpar, por se sentir recompensado pela "inteligência", considerar "engraçado", as farpas "en passant", a "maledicência", enfim, toda aquela arte de Maquiavel de trazer por casa, tiram qualquer sentido ao seu post.
    Este senhor está sempre ao nível que o Ricardo Araújo Pereira tão bem soube caricaturar quando do referendo ao aborto, não sei se lembra. Deixe de se deixar cegar com as luzes dos holofotes e vai ver como a 1º parte do que escreveu não faz qualquer sentido.
    Este homem é uma fraude, e é preciso coragem para dizer que "o rei vai nú", sem considerandos prévios.

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